São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Cai Joel Santana e fica Zezinho Mansur...

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Fosse num regime profissional, o responsável maior seria responsabilizado. Como não é, quem paga o pato é o técnico. Cai Joel e fica Zezinho Mansur, o cartola autor de toda essa proeza, então....
Isso, claro, não exime técnico e atletas de suas respectivas parcelas de culpa. O técnico, porque não soube incutir no grupo moral suficiente para sair do impasse, muito menos oferecer um esquema tático adequado às circunstâncias. Os jogadores, por se deixarem abater num momento que exigia superação.
E por que Mansur? Simples: por não saber coordenar a entrada e a permanência do patrocinador no Parque (traduzindo: gerir os altos investimentos disponíveis) e por ter sido o agente principal na venda do passe de Marcelinho, jogador-chave da equipe, ao futebol espanhol.
Pelo menos segundo a versão de Mário Sérgio, que me assegurou ter sido obra do cartola essa negociação, sob o argumento de que Marcelinho era um líder negativo (isso dito, ainda segundo o Mário, com palavras de baixíssimo nível).
O resto é consequência. Com a saída de Marcelinho, desarticulou-se o meio-campo e o ataque. Resultado: o time, apesar do marketing que o cerca, falhou, a torcida reagiu, sobreveio a insegurança, que logo foi substituída pelo pânico provocado pela real ameaça de queda para a segundona.
No futebol, apesar dos acasos, tudo tem um curso lógico. Às vezes, inexorável.
*
Por acaso ou fruto de reflexão de Felipão, o fato é que Júnior caiu como uma luva no meio-campo palestrino.
Diria mesmo que foi sua improvisação no lugar de Zinho que conferiu ao Palmeiras status do único grande paulista capaz de brigar de igual para igual com Vasco, Inter e Atlético pelo título (a Lusa é uma questão à parte).
Seguindo os passos de seus ilustres antecessores -o xará histórico do Flamengo e Leonardo, hoje no Milan-, Júnior deu uma dinâmica ao meio-campo que não se via desde os tempos de Djalminha.
Não se trata de um craque renomado, nada disso. Aliás, se alguém ali merece tal epíteto é o menino Alex. Mas, por força da habilidade, somada à mobilidade, Júnior imprimiu velocidade ao setor, o que resultou numa participação mais ativa dos atacantes, que estavam abandonados lá na frente.
Pode ser uma primeira impressão, mas desconfio que não.
*
Nessa história da lei Pelé, não há mocinhos. Há, isso sim, muitos interesses em jogo, de ambas as partes; alguns deles, inconfessáveis.
Assim como é óbvio que Eurico Miranda & Cia. representam uma corrente de aproveitadores do futebol, antiga e escrachada, é inegável que o ministro Pelé, por meio de sua empresa de empreendimentos esportivos, será beneficiado com a profissionalização da administração dos clubes.
A questão, nestes tempos de resultados, é saber o que interessa mais ao torcedor (leia-se, consumidor). E o que interessa, no caso, é a transformação das formas de gestão do nosso futebol.
Ponto final. O resto é lobby.

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