São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997 |
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Jogador evita vermelho em morro
FERNANDA DA ESCÓSSIA
Motivo: os traficantes da Chácara do Céu, no alto do morro, integrantes da facção criminosa Terceiro Comando, acham que a cor é um sinal de apoio ao grupo rival Comando Vermelho, que comanda o tráfico na parte baixa. "Quem joga de camisa vermelha marca bobeira e vira alvo. O pessoal lá de cima já matou dois que estavam jogando de vermelho aí no campinho", afirmou Cruz. Esse tipo de mudança de comportamento é o tema central do estudo "Violência e Juventude Urbana Pobre", realizado por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Foram entrevistados 120 jovens pobres e não-delinquentes, sem passagem pela polícia e com idades entre 12 e 21 anos. O estudo revela que 41% das violências sofridas pelos jovens são atribuídas por eles à polícia (humilhações e/ou revistas). Segundo os entrevistados, as revistas são normalmente seguidas de agressões. Os dados revelam que 96% dos jovens não procuraram uma delegacia ou a PM para denunciar a violência. A principal justificativa dada por eles (34%) foi a de que não acreditam na polícia. "Entre a polícia e o crime, o que se instala entre os jovens é a cultura do medo como principal fator de definição da identidade", diz a antropóloga Ana Quiroga, coordenadora da pesquisa. Bonés Com medo, a juventude urbana pobre cria suas próprias regras de segurança. Os bonés, por exemplo, desaparecem das cabeças dos jovens quando a polícia está nos morros. Segundo os jovens pesquisados, quem está de boné é confundido com funkeiro e não escapa das revistas da polícia. Para andar de ônibus, é preciso deixar em casa os tênis importados, sonho de consumo da maioria. Os jovens temem ser roubados. A surpresa da pesquisa é a participação dos jovens em grupos religiosos, que aparece em 20% das respostas de formas de se associar mantidas pelos jovens. Os grupos religiosos só perdem para as "galeras" (42%), grupos de rua ou de bairro, com códigos particulares de amizade e traição. A pesquisa mostra que os jovens não se ligam a grupos tradicionais, como partidos políticos ou associações de moradores. Texto Anterior: Em SP, jovens da periferia evitam usar tênis caros Próximo Texto: Consumo 'iguala' classes Índice |
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