São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Rodeio é uma festa covarde e desigual, que tortura os animais

WANDERLEY BAPTISTA DA TRINDADE JÚNIOR

As pessoas que vivem do rodeio escondem do público uma triste realidade. O público acredita que os animais pulam e corcoveiam por serem xucros e bravios.
Na realidade, eles são domesticados, mansos e dóceis, tanto que são transportados normalmente em caminhões até ao local eleito para a atrocidade humana.
Os corcoveamentos e os pulos dos animais são decorrentes da dor que sofrem com o emprego da espora, sedém, peiteira, choque e sino. Por que não fazem o rodeio sem tais instrumentos?
Porque sem a utilização desses instrumentos de tortura seria impossível a prática do rodeio.
Por qual razão os organizadores não fazem uso de animais xucros e bravios do pantanal mato-grossense? Faltaria coragem aos peões, que jamais conseguiriam transportar e montar no animal.
O rodeio é uma 'festa' covarde e desigual. A reprovação tem ainda base científica. Conforme a professora Júlia Maria Matera, presidente da Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, a utilização de sedém, peiteira, choques elétricos ou mecânicos e esporas gera estímulos que produzem dor física nos animais, além de sofrimento mental. A famigerada 'festa', diversamente do que procuram passar ao público, reproduz o odioso costume da Roma antiga, como ocorria com os gladiadores que lutavam entre si até a morte.
A história também nos lembra que os cristãos foram o alvo da carnificina pública. Eram jogados em arena com leões famintos para a felicidade da platéia.
A evolução da sociedade não admite mais atrocidade análogas, pois, além de constituírem uma patente ilegalidade, representam uma sórdida selvageria humana. Cada animal tem o direito ao respeito.
O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou explorá-los. Ele tem o dever de colocar sua consciência a serviço dos outros animais.
A aplicação da lei sem temor e ou receio de confronto com fortes interesses econômicos individuais, bem como contra uma camada da população sem o mínimo de consciência ambiental e dignidade humana, é o que se deseja.
Para uma reflexão sobre o tema, cito o poeta Fernando Branti: "Ter de resistir à dor, sem compreender por que a dor. Ter de suportar viver a dor e sem merecer a dor. Se é esse o meu destino, quem é o algoz que o traçou?"

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