São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Médicos vão à Justiça contra 'roleta-russa'

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Cinco médicos de Belo Horizonte impetraram ontem na Justiça Federal, em Brasília, uma interpelação judicial contra o presidente Fernando Henrique Cardoso, ministro da Saúde, Carlos Albuquerque e o Congresso Nacional.
Com a medida, os médicos cobram do governo responsabilidade na questão da saúde pública e comunicam que a categoria não está mais disposta a fazer a chamada "roleta-russa" nos hospitais.
Essa "roleta-russa" é a escolha de pacientes que os médicos têm de fazer quando surge uma vaga para internação nos hospitais públicos.
"Os médicos estão sendo obrigados a decidir quem morre e quem vive. Se você conseguir uma vaga, o médico decide quem é que vai ocupar essa vaga. Às vezes, você tem de escolher o mais jovem ou o que tem mais chances (de sobreviver). Isso é um absurdo e não cabe aos médicos decidir."
A afirmação é do médico Ricardo de Menezes Macedo, presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais e um dos cinco médicos que trabalham no setor de urgência em hospitais da capital mineira que assinam a interpelação.
Segundo ele, em todo o país essa "roleta" está acontecendo e o governo é o único responsável por esse quadro, na medida que desvia recursos da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) para outros fins e não aplica dinheiro suficiente na área da saúde.
Redução de vagas
Dados da Secretaria Municipal da Saúde mostram que, na capital mineira, entre 93 e 96, aproximadamente 1.500 leitos deixaram de pertencer ao SUS, já que esses leitos estavam em hospitais conveniados ao sistema.
Essa perda é provocada principalmente pela baixa remuneração definida pelo governo federal.
Em Belo Horizonte, 15% dos leitos estão nos hospitais públicos. Os outros 85% estão nos hospitais privados, o que exige um enorme esforço do município para negociar vagas.
Com a interpelação, os médicos querem pôr fim ao que chamam de inércia do governo.
"O presidente disse que o dinheiro está sendo mal gerenciado. Só que a Constituição Federal é clara ao apontar a responsabilidade do governo. A partir do momento que o direito do cidadão é violado, as pessoas que estão no governo são responsáveis", disse o advogado Renan Kfuri Lopes.
Os médicos também pedem a interpelação do presidente do Senado, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), e de todos os líderes partidários no Congresso, que têm a responsabilidade da fiscalização.

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