São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Alta da Bovespa no ano recua para 39%

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Em momentos como os de ontem, com verdadeiro pânico nas Bolsas e nervos à flor da pele nos demais mercados de todo o planeta, fica difícil identificar e organizar as causas de tanta agitação.
Pelo menos dois motivos, entretanto, poderiam explicar o fato de a queda das Bolsas de Valores no Brasil, de 14,97% na Bovespa, ter sido mais intensa do que em outros países -se bem que -7,18% para Nova York tem significado bem maior do que um percentual desses por aqui.
Entre as várias Bolsas em todo o mundo, as do Brasil foram as que mais subiram neste ano, lembra Marcelo Giufrida, vice-presidente de investimentos do Banco CCF Brasil.
Até a última sexta-feira, apesar da fase de turbulência inaugurada em julho, o Ibovespa estava com valorização de 64%, bem acima, por exemplo, dos 21,07% do Merval (Argentina) e 19,65% do Dow Jones (Nova York).
Neste ano, até o início de julho, a valorização do Índice Bovespa encostou em nada menos do que 93,4%. Medida pelo fechamento de ontem, a elevação desse índice já cai para 39,4%, o que dá uma idéia da grandeza da queda.
Telebrás PN, ação-vedete que chegou a valer R$ 180 o lote de mil no pico de alta em 97, fechou em R$ 116,50. Uma queda de 35%.
Além disso, o mercado acionário no Brasil é muito concentrado, diz Giufrida.
Há volume de negócios, em vários dias acima de R$ 1 bilhão, mas liquidez e transações se concentram em Telebrás.
Fundamentos
Entre analistas, há certo consenso de que o que eles chamam de fundamentos, tanto da economia quanto das empresas, não explicam queda tão forte.
O mercado recebeu bem o modelo de venda do sistema Telebrás, começa a flexibilização da Petrobrás e os juros nos EUA até caíram, cita Giufrida. Nada justifica que uma ação caia 20% em um dia.
Por isso mesmo, ele arrisca que "pode ser a hora da compra". "Mas para quem tiver sangue frio", completa rápido.
Dalton Gardimam, economista-chefe do Deutsche Morgan Greenfell no Brasil, concorda que os fundamentos da economia não mudaram. As perspectivas políticas (chance de reeleição de FHC) e resultados obtidos pelo governo na área fiscal até melhoraram, diz.
Mas esses indicadores, ontem, não quiseram dizer nada, observa.
Efeito-cascata
Na opinião de Gardimam, um efeito-cascata em escala mundial pode explicar, pelo menos em parte, a queda de ontem.
O que vem acontecendo na Ásia, explica, aponta para um crescimento menor não só na região, mas no resto do mundo. O Japão, lembra ele, destina 37% de suas exportações aos demais países asiáticos. O desaquecimento tende a se refletir nos resultados das empresas e na economia e exportações dos próprios EUA.
Com prejuízos no mercado asiático, administradores de fundos de investimento globais precisam justificar performance a seus clientes e acabam vendendo para realizar lucro onde ele ainda existe: no Brasil.
"É onde ainda tem gordura para queimar", completa Giufrida.
As tesourarias dos bancos, continua Gardimam, também possuem seus limites de perda ("stop loss"). Alcançados esses limites, as instituições vendem ações para parar de perder. Em momentos de tensão como os de ontem, explica ele, isso potencializa a queda.
Difícil, afirma o economista, é medir o peso de cada um desses fatores e ver até que ponto são as principais causas da turbulência. "Qual direção o mercado vai tomar amanhã (hoje), ninguém sabe", completa Gardimam.
Ao que parece, diz ele, o movimento foi mesmo de pânico em larga escala, "e esses pânicos raramente obedecem a fundamentos".
Decisões com base em fundamentos não são tão rápidas e sincronizadas como as tomadas ontem pelos grandes "players" (jogadores) do mercado, lembra ele.
Juros
Como rescaldo da agitação de ontem -se é que os mercados se acalmarão tão cedo-, Gardimam vê pelo menos um ponto que favoreceria o Brasil.
Com a perspectiva de que o crescimento mundial seja menor, afetando também a economia norte-americana, os juros nos Estados Unidos tendem a cair, fazendo movimento oposto ao que se teme que ocorra a cada reunião do Federal Reserve (Fed).

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