São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997 |
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Bolsa de Valores argentina cai 13,73%
CLÓVIS ROSSI
O índice Merval ficou abaixo da barreira de 700 pontos, fechando a 680 pontos. Mais de 20 empresas que compõem o índice caíram 15%. A queda não respeitou nenhum critério econômico: a retração atingiu empresas nas áreas de telecomunicações, petróleo, eletricidade, entre outras. Para os representes da Bolsa de Valores e do governo, a maior queda dos últimos seis anos foi causada unicamente pela crise financeira que começou em julho no Sudeste Asiático. Eles negam que o resultado das eleições do último domingo, com a vitória da oposição nos sete maiores colégios eleitorais do país, tenha contribuído para o resultado negativo da Bolsa de Valores. Operadores, por sua vez, avaliam que a situação econômica argentina influiu na queda. Julio Macchi, presidente da Bolsa, afirmou que a queda do índice Merval é explicada unicamente pela crise financeira que começou nos mercados asiáticos. "Os indicadores econômicos da Argentina estão firmes e as eleições são uma mostra da maturidade da democracia", disse Macchi. Opinião semelhante tem Miguel Kiguel, subsecretário de financiamento do governo. "A queda da Bolsa não é resultado das eleições, mas se deve a forte baixa registrada em Hong Kong", afirmou Kiguel, numa mostra de que o governo não perde ocasião de festejar a estabilidade econômica. A oposição assumiu-a como um valor a ser preservado. Coincidência Mas o irônico é que essa coincidência interna não combina com o cenário externo. Depois que Hong Kong, que tem sistema cambial idêntico, entrou em crise, há o temor generalizado de que a Argentina seja a bola da vez. Martín Redrado, economista da Fundação Capital, diz que a Argentina está em dependência em uma matéria, "que é sua vulnerabilidade externa, como o demonstra a crise de Hong Kong". Eduardo Curia, que foi vice-ministro da Economia no início da gestão Menem, chega a prever que os próximos dois anos (até a sucessão presidencial) serão "dramáticos". Motivo: "Com um governo debilitado, sem maioria no Parlamento, se marcará mais a vulnerabilidade social e a difícil situação externa". A oposição acredita que a sua vitória e a perspectiva de repeti-la em 99 funcionarão como amortecedor para o descontentamento social. Mas, para a "difícil situação externa", não há respostas à vista. Ao contrário: o déficit comercial (importações menos exportações) tende a US$ 4 bilhões este ano. E a necessidade de financiamento externo para cobrir o buraco na conta corrente (a soma de todas as transações com o exterior) chegará a US$ 9 bilhões ou cerca de 3% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas por um país). Não chega a ser, ainda, um número capaz de acender o sinal vermelho. O governo brasileiro jura, por exemplo, que um déficit ainda maior (4%) é perfeitamente financiável. Mas há dois problemas casados: primeiro, o fato de que muitos analistas acreditam que o déficit externo é bem maior do que o oficialmente admitido. Segundo, mesmo que seja verdadeiro, impõe um limite ao crescimento econômico. A própria experiência argentina, como a brasileira, demonstra que um crescimento acelerado traz déficit comercial e de conta corrente, o que leva o governo a pôr freios na economia. Menos crescimento, por sua vez, significa manter ou até aumentar a vulnerabilidade social. Talvez por isso, o jornalista Daniel Naszewki, do jornal "El Cronista", anima-se a traduzir assim a vitória da oposição: "Delineia-se um novo pensamento econômico dominante, mais inclinado à progressividade fiscal e à redistribuição de renda e menos a resolver os problemas da sociedade pela via do crescimento como sistema de distribuição social". Com agências internacionais Texto Anterior: HK cai 11,45% em meia hora já hoje Próximo Texto: Mercado cai na angústia irracional Índice |
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