São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Biografia é um magnifíco documento social

TIM HAIGH
DO "INDEPENDENT ON SUNDAY"

Há muitos anos Paul McCartney vem reivindicando seu passado como Beatle. Nos shows, toca uma sequência de canções que qualquer beatlemaníaco reconhece como história resumida.
Começa com "Twenty Flight Rock", de Eddie Cochran, com a qual impressionou John Lennon quando o encontrou pela primeira vez; depois "Ain't She Sweet", a primeira gravação (John cantou-a nas sessões de backing vocals para Tony Sheridan em Hamburgo), e "I Saw Her Standing There", a primeira faixa do primeiro álbum.
Há mais de um quarto de século a banda terminou, e agora McCartney sente-se confortável em ser um ex-Beatle. Ele quer retomar seu passado de forma direta. A "Antologia" feita para a TV foi parte desse processo. A biografia de Barry Miles é outra.
Miles conhece Paul desde 1965. Ele era uma parte ativa da cena underground da "swinging London", fundando o jornal "International Times", co-fundando a livraria Indica e a galeria onde John encontrou Yoko.
Esse novo livro não é, portanto, uma visão ampla, mas o trabalho de um amigo. Quarenta por cento do texto consiste em transcrições de entrevistas com Paul -é o próprio Paul falando, o que dá ao livro um tom mais informal, pessoal. E esse é o ponto principal. Miles é um interlocutor. Essa é versão de Paul da história dos Beatles.
Parece desanimador voltar a um terreno tão familiar. A frase: "A história como foi e é conhecida..." pode ser suficiente. Por isso é difícil ignorar erros tão básicos como a data de aniversário de George Harrison (é 25 de fevereiro, não 23) e a afirmação de que o álbum "Revolver" começa com "Eleanor Rigby" (é com "Taxman").
Mas o livro tem suas virtudes guardadas. Paul passa por cada canção quase uma por uma, identificando as suas e as contribuições de John, como John fez na sua famosa entrevista à "Playboy". Existem menos contradições do que poderia se supor, ainda mais dada a notória memória revisionista de John e a quantidade de drogas que ele tomou.
John e Paul serão parceiros eternamente e sempre comparados. Paul aceita isso. O problema é que, para o resto do mundo, a genialidade de John é e será um mistério, enquanto o sucesso de Paul parece mais explicável numa mistura de talento colossal e dedicação.
Essa imagem e o assassinato de John deram um brilho lendário à sua vida e arte. O livro é sobre os Beatles, e isso significa que é sobre a relação entre Paul e John.
A biografia é também satisfatória ao falar do relacionamento de Paul e Jane Asher, e sua substituição por Linda. Só a privacidade em que vive Paul e seu jeito de se esconder por trás de uma imagem entusiasmada já tornam o livro uma leitura valiosa. Se falha no teste de Anthony Clare de revelar o interior de seu sujeito, é mesmo assim um magnífico documento social.

Livro: "Paul McCartney - Many Years from Now"
Autor: Barry Miles
Lançamento: editora Secker & Warburg (importado)
Quanto: na Inglaterra, 19 libras (654 págs.)
Onde encomendar: livraria Cultura (tel.011/285-4033)

Tradução Denise Bobadilha

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