São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Derrota marcante silencia Menem

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O presidente argentino, Carlos Menem, recolheu-se a um profundo silêncio após a contundente derrota que a coligação opositora Aliança lhe impôs no domingo, em pleito legislativo.
O único gesto do presidente foi protocolar: enviar telegrama de cumprimentos aos vitoriosos.
"Não podemos fazer alegremente análises sem qualquer profundidade", justifica o ministro do Interior, Carlos Corach.
É exatamente o oposto do que estão fazendo todos os outros, da oposição à mídia, passando por sociólogos e pesquisadores.
São análises que, em alguns casos, já cravam o último prego no caixão de uma candidatura peronista para a sucessão presidencial de 1999.
"Os resultados de ontem mostram que, salvo drástica e rápida inovação, o justicialismo tem perdida a eleição presidencial de 99", escreve Jorge Castro, diretor-adjunto do matutino "El Cronista".
Exagero? Talvez, mas o fato é que o resultado eleitoral foi uma derrota tão forte que, "se o sistema fosse parlamentarista, o presidente teria dissolvido o Congresso e convocaria eleições para um novo governo", analisa o sociólogo Enrique Zuleta Puceiro. De fato, a oposição ficou 11 pontos percentuais à frente do governo no pleito para renovar 127 das 257 cadeiras da Câmara de Deputados.
Menem mantém, é verdade, uma maioria relativa (118 deputados). Mas perdeu 13 dos seus 131 deputados, enquanto os dois partidos da Aliança subiam de 91 para 110. Os demais são de partidos menores ou provinciais.
Além disso, o governo perdeu em todos os sete maiores colégios eleitorais. Ganhou em dez, todos pequenos e pouco influentes politicamente.
"Pai da derrota"
Ao contrário de Menem, Eduardo Duhalde, governador da Província de Buenos Aires, que se considera o candidato "natural" do peronismo para 99, assumiu: "Sou o pai da derrota".
Na prática, é apenas uma frase. Duhalde acha que ganharia a eleição se Menem não tivesse dado a ela um caráter nacional. Afinal, Duhalde é o político argentino de melhor imagem, conforme pesquisa publicada sexta-feira pelo matutino "Clarín".
Todos os demais governadores peronistas têm acima de 40% de aprovação popular. Se perderam, justifica-se a análise generalizada de que a "nacionalização" da campanha, proposta por Menem, é que provocou a derrota.
Até no peronismo, o governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner, culpa Menem pelo resultado desastroso para os governistas.
O sistema eleitoral, de resto, contribui para essa análise porque, na Argentina, vota-se numa lista de candidatos do partido e não em nomes, ao contrário do que ocorre no Brasil.
"O peronismo já não tem candidato natural", arrisca Ramón "Palito" Ortega, ex-governador de Tucumán, ex-cantor romântico e também presidenciável.
É uma farpa em Duhalde e um sinal claro de que se abriu a guerra interna no peronismo. Já na noite de domingo, apareciam cartazes com a foto de Ortega e a frase: "A Argentina tem uma esperança".
A oposição temperou a inevitável euforia com a cautela em relação a 99. "Primeiro, vamos fazer um programa e só depois pensar em candidaturas", diz Carlos "Chacho" Alvarez, primeiro da lista na capital (Buenos Aires) e criador da Frepaso (Frente País Solidário).
A Frepaso forma a Aliança com a UCR (União Cívica Radical), o mais antigo partido argentino.

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