São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Van Gogh "falso" pode abalar mercado

MICHAEL STREETER
DO "THE INDEPENDENT"

A história das falsificações de obras de arte é extensa.
A descoberta de falsificadores como Tom Keating e do holandês Han van Meergeren, o infame copiador das pinturas de Vermeer, tem periodicamente levantando questões sobre a maneira como vemos a arte e seu valor intrínseco.
Entretanto, a história de uma possível falsificação recente, a dos "Girassóis" de Van Gogh, se for provada, tem o potencial de apagar todas as outras -e possivelmente causará um impacto significativo no preço das pinturas pós-impressionistas.
Imaginem o sentimento de naufrágio que os executivos da companhia de seguros japonesa Yasuda sentiram ao ouvir a notícia de que sua bela e colorida pintura de 14 girassóis, que foi adquirida num leilão da Christie's há dez anos, pelo fabuloso preço de US$ 41 milhões, pode não ser mesmo um Van Gogh, mas um Schuffenecker. Schuffen-quem?
Num documentário da televisão inglesa no último domingo, a escritora de arte Geraldine Norman confirmou sua crença de que um obscuro professor de arte parisiense chamado Claude-Emile Schuffenecker tenha perpetrado uma das maiores fraudes da história da arte.
Norman está absolutamente certa de que o francês é autor da pintura, uma das três retratando 14 girassóis atribuídas a Van Gogh (existiam sete ao todo).
Se a afirmação for verdadeira -e nem os proprietários nem o Museu de Arte Seiji Togo Yasuda fizeram comentários sobre o caso ainda-, então ficará claro que os "Girassóis Yasuda" não valem nada dos 41 milhões pagos.
Onde está a falsificação? A própria Norman crê que, se sua descoberta for verdadeira, a pintura do girassol é "uma obra máxima e indisputável" de Schuffenecker.
Schuffenecker, que deixou seu trabalho na bolsa de valores com o amigo Paul Gauguin, quando ambos decidiram se concentrar em suas carreiras de pintores, pode ter sido inspirado pelo trabalho de restauração da versão original de 14 girassóis de Van Gogh, hoje na National Gallery de London.
Curiosamente, o próprio Van Gogh fez uma cópia de sua pintura de 1888 um ano depois, que está na coleção da família em Amsterdã. Isso levanta outras duas questões. Qual é exatamente a diferença de status entre uma cópia feita por Van Gogh de seu próprio trabalho e a tentativa de Schuffenecker?
Obviamente, a intenção de cada um é diferente -e uma é a farsa-, mas o valor artístico é outra questão.
Entretanto, aparentes descobertas como a de Schuffenecker podem afrouxar a confiança no mundo da arte. "Falsificadores podem atacar o coração da arte", diz Michael Daley, da Artwatch UK. "Isso mostra que existe uma linha falha no universo, e traz questões perturbadoras sobre como vemos todo o conjunto da arte."
No caso atual, talvez existam mais fendas a vir. De acordo com Norman, algumas pistas, ainda em investigação, sugerem que Schuffenecker pode não ter se contentando em falsificar apenas Van Goghs.
Ele pode ter usado suas mãos para ter produzido em série pinturas atribuídas ao seu amigo Gauguin e também a Cézanne.
Um horror como esse, se comprovado, pode provocar um efeito arrasador no mercado de arte pós-impressionista, de acordo com Norman. De quanto? "Isso ainda iremos ver".
Enquanto isso, os proprietários japoneses dos girassóis precisam sonhar que Schuffenecker, antes conhecido só por ter sido retratado por Gauguin, se torne conhecido por seu próprio trabalho.

Tradução Denise Bobadilha

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