São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997
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Ciro propõe 'pacto de transição' anticrise

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O pré-candidato a presidente da República pelo PPS, Ciro Gomes, disse ontem que o governo deveria propor um "pacto de transição" para resolver a crise econômica deflagrada nesta semana com o crash das Bolsas.
"Eu recomendaria mudar completamente essa posição de arrogância, de ficar querendo jogar a culpa toda para fora do país. O presidente poderia ir à TV, reconhecer a crise, ser franco e tentar convocar a nação para as reformas necessárias", disse Ciro Gomes à Folha, comentando a crise atual.
Para o ex-ministro da Fazenda, "agora o estrago já está feito". As reformas que estão no Congresso hoje, patrocinadas pelo governo, não são suficientes para resolver os problemas estruturais do país.
"Essas reformas que estão aí não são suficientes para controlar as contas. Se aprovadas, teriam um impacto muito pequeno", diz.
Indagado se acreditava que o presidente seria capaz de convencer os congressistas a votar reformas mais profundas, Ciro disse que isso só seria possível com a participação de outros setores da sociedade.
"O presidente não poderia se dirigir só aos deputados. Teria que falar com os líderes e presidentes de partidos. Com os líderes sindicais e empresariais e de toda a oposição. Assim viabilizaria as mudanças, tentando um pacto de transição", afirmou.
O que não pode, segundo Ciro, que ontem estava em Fortaleza (CE), "é ficar querendo dizer que o 'real é uma muralha', pois ninguém acredita nessa mentira".
O conteúdo do pacto
Ciro Gomes não fala se apoiaria o tal pacto de transição. Mas algumas de suas declarações ontem eram na primeira pessoa do plural, como se estivesse propondo uma ação conjunta com o governo.
Quando indagado sobre se as medidas tomadas num eventual pacto iriam gerar recessão, disse: "Não tem jeito. O governo insistiu muito em uma política errada, tentando apenas proteger a moeda. Mas tentaríamos alguma coisa seletiva, reforçando alguns setores que pudessem gerar algum alívio para uma parcela da população".
O ex-ministro disse que sempre haveria "alguma recessão". Mas disse que uma das formas de atenuar os efeitos seria estimular setores que garantissem emprego para a população de baixa renda, como a construção civil.
O tamanho da crise
Para Ciro, a crise está longe do seu fim. As medidas tomadas pelo governo até agora seriam apenas paliativas. O aprofundamento dos problemas virá com o tempo.
"Não dá para acreditar que temos apenas que esperar o super-homem Gustavo Franco resolver os problemas. Queimando R$ 10 bilhões é fácil. Eu também faço. Quero saber se vai ter R$ 10 bilhões toda hora para torrar."
Para Ciro Gomes, a alta dos juros decretada pelo governo anteontem não será suficiente para atrair os capitais necessários. Daqui a algum tempo, o país estará apenas com os juros altos e ainda sem dinheiro necessário para equilibrar suas contas e proteger o real.
"Está claro que a situação está ruim aqui dentro. Não é algo que veio de fora. Basta telefonar para o Chile e para a Venezuela e perguntar se lá a situação é tão aguda como a nossa. Não é. Esses países já fizeram suas reformas", afirma.
Campanha eleitoral
O candidato do PPB disse que está desanimado com os últimos desenvolvimentos de sua campanha.
"Eu vou para todos os lugares e dou palestras com propostas concretas. No outro dia, os jornais só noticiam o almoço que eu tive com esse ou aquele político. Preciso furar esse muro de fofocas", disse.
A estratégia agora, segundo Ciro, será evitar "marcar encontros com políticos que só estejam com vontade de reaparecer na mídia".
"Esses pseudofatos, almoços com essa ou aquela pessoa, não interessam. O importante é que eu consiga detalhar as minhas propostas para o país. Vou fazer isso a até o início do ano que vem", declarou o pré-candidato.

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