São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997
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Poucos consumidores vão às compras

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

Lojas vazias, consumidores confusos. Essa foi a reação do comércio ontem ao anúncio da alta de juros, feito na noite de anteontem.
O protético Tadasi Takabatake foi o primeiro consumidor a comprar algum produto na matriz das lojas G. Aronson, às 14h40. Comprou um fogão e um aparelho de ar condicionado. Pagou à vista.
Takabatake disse que o aumento dos juros não influenciou em sua decisão de comprar à vista. "Eu não costumo fazer compras a prazo", afirmou.
Girsz Aronson, dono da loja, disse que precisou tomar calmantes, para diminuir o nervosismo. "Onde estão os clientes?", perguntava, mostrando a loja vazia.
"O comércio está traumatizado, vai haver recessão, desemprego", disse Aronson.
Apesar de a maioria dos estabelecimentos ainda estar trabalhando ontem com os juros antigos, os poucos clientes que se aventuravam a entrar nas lojas se limitavam a ver preços.
"Eu até ia comprar uma geladeira para o meu filho, que está precisando, mas vi essa história de que aumentou tudo, então vou esperar para ver o que acontece" disse o militar da reserva Nélson Vass, 71.
Vass, que olhava ontem o preço de mercadorias das Casas Bahia, disse que costuma comprar a prazo, mas iria esperar a próxima semana antes de decidir o que fazer.
"Terminei de pagar algumas prestações e já poderia comprar mais, mas não vou arriscar", disse.
Outros consumidores que pesquisavam o preço dos produtos nas lojas sequer sabiam da escalada dos juros.
"Subiu, é? Mas esse governo é tão bonzinho", disse com ironia a funcionária pública Maria Tavares Moreno.
"Eu estava pensando em dar a entrada no microondas quando recebesse o salário, na semana que vem. Agora não sei mais se vai dar", disse Maria Tavares.
A auxiliar de limpeza Maria da Silva, 45, que também não sabia do aumento dos juros, disse que desistiu da máquina de lavar.
"Eu recebo na semana que vem e ia comprar em nove vezes, mas disseram que vai ficar mais caro e aí não vai dar", afirmou Maria.
Os poucos consumidores que optaram por comprar alguma coisa, pagaram as mercadorias à vista, a exemplo de Takabatake.
Foi o caso do técnico em eletrônica Nilton Souza Lima, que comprou um videocassete no Mappin.
"Eu estava passando, vi o preço, era bom, decidi comprar", disse.
Lima costuma fazer compras a prazo, mas preferiu não pagar em três vezes sem acréscimo, como oferecia a loja.
"Fiquei sabendo do aumento dos juros e evitei qualquer complicação. A gente não sabe como as coisas vão ficar", afirmou.

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