São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Cientistas se preparam para evitar a volta da varíola

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pox é grupo de famílias de vírus do homem e dos animais. Seu padrão é o vírus da varíola humana, hoje extinta após duradouro esforço de imunização. Desse vírus só restam atualmente dois frascos com amostras puras, cuidadosamente guardadas em laboratórios dos Estados Unidos e da Rússia. Muito se tem discutido sobre o destino dessas amostras, se devem ser destruídas para sempre, ou se devem ser conservadas para estudos sobre o pox dos macacos ou alguma emergência.
O pox dos macacos é clinicamente idêntico, ou quase, ao vírus variólico. Ele tem a propriedade de eventualmente saltar do animal ao homem, criando pequenos focos endêmicos que logo morrem porque o vírus dificilmente passa de uma pessoa a outra.
Por isso causou grande alarme sanitário a notícia, publicada em revista científica, de que numa aldeia da República Democrática do Congo (antigo Zaire) a incidência do pox dos macacos aumentou sensivelmente, assim como a sua passagem do animal ao homem.
Entre fevereiro de 1996 e o mesmo mês de 1997, teria havido 92 casos da doença e 3 mortes naquela região, contra 37 casos entre 1981 e 1986. Muito debate surgiu sobre a significação desse aumento, que alguns especialistas acham fictício.
Ao lado dessa discussão se armou outra, sobre a destruição ou não das amostras de vírus conservadas. Mas o fim dessa questão só está previsto para 1999, quando uma assembléia dirá o destino final das amostras.
Duas explicações principais surgiram para o grande aumento do pox dos macacos, se realmente houve. Baseia-se uma na vacinação contra a varíola em pessoas (a vacina também protege contra o pox dos macacos), que teve tamanho êxito que há 20 anos foi suspensa, aumentando, pois, progressivamente, o número de indivíduos sensíveis ao vírus animal.
A esse fato se somaram outros, como o vírus da Aids (HIV), que diminui a resistência imunológica, e o medo da escassez (a situação do país é tensa), que leva ao aumento de tentativas de caça e armazenamento de esquilos, ratos e outros animais sensíveis, que em caso de necessidade são devorados.
A outra explicação para o suposto aumento do pox chega a ser ominosa. Segundo ela, o vírus dos macacos teria de fato mudado, tornando-se mais virulento ou até mais transmissível. Mas certos especialistas contestam a possibilidade de mutação do pox dos macacos em varíola humana. As autoridades sanitárias mundiais estão estudando como lutar contra o possível -porém não provável- alastramento da varíola a partir do pox dos macacos.
A Organização Mundial de Saúde está planejando uma nova visita ao local, assim que a situação política permita.

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