São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Motores iônicos

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O futuro da conquista espacial começa em 1998. A ficção científica nunca esteve tão próxima da realidade como na mais moderna sonda espacial norte-americana, a DS-1, que deverá ser lançada no ano que vem.
A história da conquista espacial algum dia será dividida em antes e depois dessa sonda, cujo revolucionário motor já foi invejado até pelo capitão Kirk da espaçonave Enterprise, da série de TV e cinema "Jornada nas Estrelas".
Mais ainda, o computador de bordo é o mais próximo que o ser humano já inventou daquele conhecido como Hal, que infernizou a vida dos astronautas no livro e no filme "2001, Uma Odisséia no Espaço".
Os responsáveis pela sonda estiveram envolvidos nas principais conquistas da Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço, dos EUA). Trata-se do pessoal do famoso JPL (Laboratório de Propulsão a Jato, de Pasadena, Califórnia).
Por que o motor da DS-1 é revolucionário? Porque todos os motores de todos os foguetes e satélites e sondas espaciais existentes funcionam com o mesmo princípio de um busca-pé ou de um cu-de-breu -isto é, nada que um torcedor de futebol não conheça.
A maneira bonita de descrever esses motores -seja o de um rojão, seja o do ônibus espacial americano- é dizer que usam energia química -ou seja, são verdadeiras explosões controladas, subindo ou se movendo pelo espaço graças à queima de uma substância combustível.
O motor da DS-1 -sigla em inglês para "Deep Space 1" (Espaço Profundo 1)- é o primeiro de uma nova geração a usar íons como elemento propulsor. Íons são átomos (ou um conjunto deles) com excesso ou com falta de carga elétrica.
Os íons são acelerados eletricamente até eventualmente chegarem a uma velocidade de 115.000 km/h.
Essa aceleração dos íons na DS-1 é obra de um motor, cujo diâmetro é de apenas 30 cm. O "combustível" é um gás inerte, o xenônio, que é ionizado graças à energia proveniente de painéis solares capazes de concentrar 2.000 watts (ou 2 quilowatts) de potência.
A DS-1 deverá ser lançada em 1º de julho de 1998. Será uma missão de dois anos que deverá coletar informações científicas com os instrumentos de praxe (câmeras, espectroscópios etc.), mas que acima de tudo pretende testar tecnologias para serem usadas nas missões espaciais do século 21.
Apesar de a tecnologia ser o principal objetivo da sonda, a ciência vai sair ganhando, pois a DS-1 deverá passar por Marte, por um asteróide e por um cometa, catando informações pelo caminho.
A sonda vai fazer isso com um grau de independência bem maior do que costuma ser o caso hoje.
A ficção percebeu essa necessidade antes.
O computador Hal 9000 deveria ser uma espécie de cérebro e sistema nervoso da espaçonave do livro e filme "2001". A mesma função a bordo da mais discreta DS-1 vai ser cumprida por um programa de computador dotado de inteligência artificial, chamado "Agente Remoto". Sua função é a mesma do Hal: controlar a nave com um mínimo de interferência humana.
Para ser mais independente que as outras sondas, a DS-1 também vai estar equipada com um sistema de navegação óptico (isto é, a nave na prática vai "enxergar" sua posição no espaço).
Motor a íon, computador e sistemas de guiagem futurísticos, e outras nove menos badaladas tecnologias, deverão fazer da DS-1 um marco na história da exploração espacial.

Texto Anterior: BIOGRAFIA; GERAL
Próximo Texto: O propulsor de nova geração
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.