São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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Modernizar a zona azul

HELIO CERQUEIRA JÚNIOR

É difícil entender como as prefeituras brasileiras continuam prolongando a agonia do atual sistema de estacionamento rotativo público. É um sistema que hoje não beneficia os municípios, tampouco os motoristas. Presenciamos diariamente a venda clandestina, porém institucionalizada, dos talões a preços que chegam a superar 200% a tabela oficial.
Tal prática criminosa é resultado da ineficiência da distribuição de cartões, principal fragilidade do modelo convencional. A dificuldade de encontrar pontos-de-venda leva as pessoas a submeter-se à exploração dos atravessadores.
Visando inverter esse quadro, já há em São Paulo um projeto de lei para que empresas privadas possam modernizar os estacionamentos em vias públicas da cidade.
O projeto propõe a adoção da chamada "operação eletrônica", realizada por meio de "parquímetros multivagas", amplamente usados na Europa e na América do Norte. Com eles, o próprio usuário realiza as operações que validam a permanência de seu veículo na vaga, debita o pagamento referente ao tempo de estacionamento desejado e retira o tíquete, que deve ficar no painel do veículo.
Há parquímetros multivagas disponíveis em versões que aceitam pagamentos por cartões magnéticos (como os de banco), cartões indutivos (como os de telefone público), "smart cards" e moeda corrente, conjugados ou não.
Os técnicos que estudam a implantação da "zona azul eletrônica" em São Paulo manifestaram-se favoráveis às opções disponíveis para cartões, excluindo equivocadamente a possibilidade de a máquina receber moedas. Tal preferência fundamenta-se no receio de ataques aos cofres.
Os cartões são uma crescente tendência mundial. Contudo, a exclusão do pagamento em moedas, além de restringir o meio circulante legal, causando um desconforto desnecessário aos usuários, motivará a continuidade do mercado de vendedores clandestinos.
A experiência de mais de 3.000 cidades européias evidencia que a adoção das duas modalidades de pagamento é fundamental para o funcionamento do modelo. Os equipamentos são comprovadamente resistentes ao vandalismo e possuem cofres invioláveis. As moedas são retiradas diariamente.
O sucesso da modernização do estacionamento rotativo público no Brasil está intrinsecamente relacionado à definição de formas de pagamento, cujos pontos positivos e negativos deverão ser analisados com cautela e precisão.
Modernizar o sistema significa torná-lo eficiente, garantindo aos motoristas o direito de usar democraticamente as vagas nas vias públicas das cidades em que vivem.

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