São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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Banco Central reabre "maldades", agora contra bancos estrangeiros

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, abriu ontem o seu "saco de maldades", pelo menos o verbal, contra os representantes de bancos estrangeiros que querem se instalar no Brasil, mas, na semana passada, fizeram também as suas próprias maldades.
Um deles, cujo nome Franco não revela, vinha insistindo há tempos em ser autorizado a operar no país, mas simplesmente zerou suas posições no Brasil, no mesmo dia em que a autorização foi concedida.
"Que tipo de compromisso com o país é esse?", queixou-se o presidente do BC ao representante do banco.
Coincidência
A segunda coincidência do gênero é pública: o Morgan Stanley (EUA) foi autorizado a operar no Brasil praticamente no mesmo dia em que se divulgava relatório de Ernest Brown, economista-sênior para a América Latina, dizendo que o Brasil corria o risco de ser "a bola da vez".
À parte as reclamações contra operações que chamou de "predatórias" como essas, o presidente do Banco Central estava bem mais tranquilo ontem, "um dia muito bom", disse.
Bom porque as Bolsas subiram e a situação começa a voltar ao normal, desde que "esse mundo em que a gente vive não nos traga novas surpresas", como diz Gustavo Franco.
Sem desastre
Como é de praxe em uma autoridade da área econômica, Franco não prevê novas surpresas, pelo menos não da intensidade das que ocorreram na semana anterior:
"A menos que as pessoas acreditem no fim do capitalismo, uma escola hoje minoritária, embora crescente, não há um desastre à vista".
O desastre esteve à vista, em todo caso, na semana anterior, chame-se ataque especulativo ou qualquer outro nome que se queira dar.
"Não sei se foi um ataque, mas esse troço que eu vi exigia uma resposta dura", comenta Gustavo Franco.
A resposta foi jogar os juros para cima, uma medida amarga, mas que, para o presidente do BC, deve ser comparada com a alternativa que havia: "O estrago seria maior se fôssemos consumidos por uma crise cambial, como a de 1982, que gerou 15 anos sem crescimento econômico".
O estrago a ser provocado pela alta dos juros será "insignificante", diz Gustavo Franco, na comparação com uma eventual repetição de 1982, quando o país, sem reservas, teve de suspender os pagamentos de sua dívida externa.
Renovar a aposta
O que fazer agora? Nada de muito novo, diz Gustavo Franco, a não ser "renovar a aposta em reformas que façam do Brasil uma economia forte".
Conta que, em todos os escalões do governo, a crise provocou uma corrida às gavetas para retirar projetos de reformas, porque "o nível de urgência mudou".
O elenco de reformas que o presidente do Banco Central gostaria de ver implementadas é extenso: vão da solução definitiva para o acordo com o Estado de São Paulo em torno do Banespa à autorização para adoção de esquemas de trabalho temporário.
O custo da crise, em termos de perda de reservas, não é informado pelo presidente do Banco Central.
Gustavo Franco limita-se a dizer que ficará feliz se o desfecho da presente crise for semelhante ao do chamado "efeito tequila", ou seja, as sequelas da crise mexicana de 94/95.

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