São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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Lojas elevam taxas de juros em 50%, em média, no crediário

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O choque monetário da semana passada já provocou alta de quase 50%, em média, nos juros do crediário. Ontem, a taxa média cobrada nas vendas a prazo em algumas lojas subiu de 6,5% a 7% ao mês para até 9,5% ao mês. E há casos em que os juros dobraram.
Na Arapuã, rede com 265 pontos-de-venda espalhados pelo país, por exemplo, as taxas, que variavam de 4,5% ao mês a 6,8% ao mês, aumentaram para 8,9% ao mês. Os prazos de financiamento ao consumidor diminuíram de 30 meses para 12 meses.
"Os prazos e os juros são provisórios. Vamos mantê-los até que o mercado financeiro se estabilize", diz João Alberto Ianhez, diretor da Arapuã, empresa que faturou R$ 2,24 bilhões no ano passado.
O Banco Cacique, que administra o crediário de 200 redes, sobretudo de tamanho médio, informa que até amanhã todas elas já estarão trabalhando com novas taxas de juros que, em média, subiram três pontos percentuais -de 6,5% para 9,5% ao mês.
"Subiu o preço da matéria-prima (a taxa básica da economia). Não dá para escapar do repasse ao crediário", diz Wanderley Vettore, diretor do Banco Cacique. "Quem emprestava dinheiro dos bancos pagando juros de 1,7% ao mês agora para 3,5% ao mês."
"Vergonha"
Girsz Aronson, proprietário da G. Aronson, rede com 32 lojas, estava ontem indignado com a taxa que o Banco Cacique, que opera o seu crediário, vai passar a cobrar dos seus clientes a partir de amanhã -de 11% ao mês.
"É uma vergonha. Estou pedindo ao banco para que prorrogue o prazo até o próximo dia 10. As vendas vão despencar com os novos juros", diz Aronson. A estratégia, diz, é tentar estimular a venda em até três pagamentos, financiamento bancado pela empresa.
Algumas grandes redes de lojas que têm fôlego para não mexer nos juros, por enquanto, vão utilizar essa arma para ganhar participação de mercado e/ou desovar estoques, que ficaram mais caros.
Taxas mantidas
A Casas Bahia, que tem 250 lojas, decidiu não alterar sua taxa de juros, de 6,9% ao mês, até que o susto da alta dos juros amenize. "Não vamos mudar a nossa política de venda pelo menos nesta semana", diz Michael Klein, diretor. "Com certeza, se os juros sobem, as vendas caem."
Klein acredita que o pagamento da primeira parcela do 13º salário vai estimular o consumo. Ainda assim, ele considera que a empresa vai faturar, neste ano, 10% menos do que em 1996 (R$ 2,85 bilhões). O crediário representa 90% das vendas da empresa.
O Mappin, rede com 15 lojas próprias, também decidiu não alterar os juros, de 7% ao mês. Paulo Roberto Pasian, diretor, diz que foi possível manter as taxas por causa dos acertos feitos com os fornecedores. A empresa ainda tem esperança de faturar, neste ano, o mesmo que no ano passado, cerca de US$ 1 bilhão.
As Lojas Cem, que tem 71 pontos-de-venda, é outra que não muda a política de prazos e juros, que variam de 2,5% a 6,5% ao mês.
"Como bancamos o crediário com recursos próprios, decidimos diminuir a margem de lucro para aumentar participação no mercado", diz Natale Dalla Vecchia, diretor. "Felizmente, não estamos pegando dinheiro emprestado. Isso permite trabalhar com taxa de juros menor." Ontem, segundo ele, havia bancos cobrando taxas de até 4,5% ao mês para emprestar dinheiro aos lojistas.
O Magazine Luiza, rede com 87 lojas, não havia definido, até o final da tarde de ontem, as novas taxas. A empresa está esperando o mercado se acalmar para ver se é necessário aumentar os juros, que variam de 3% a 6,5% ao mês.
"O mercado não está fácil. Se o juro subir, o consumo vai desaquecer ainda mais", diz Eldo Moreno, diretor. Segundo ele, o mercado está tão competitivo que o comércio só consegue se movimentar com fortes promoções.
A Gregory, rede de 34 lojas de roupas femininas, também não vai mexer nos juros, de cerca de 3,5% ao mês. Sheila Maria Santana, gerente, diz que a empresa vende por causa das ofertas.

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