São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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Ilustrada publica série

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

Até sexta-feira, a Ilustrada publica a reportagem-ensaio "O homem na casa de vidro", sobre o escritor J.D. Salinger, que o repórter Ron Rosenbaum fez ao longo de cinco meses para a revista "Esquire".
No segmento publicado ontem, Rosenbaum descreve a fachada da casa de Salinger, a quem chama de o "homem mais privado da América".
Por trás de placas do estilo "PROIBIDA A ENTRADA DE QUALQUER TIPO", e de um muro de madeira e pedra, está instalado um dos maiores silêncios que já se ouviu.
Há 44 anos em Cornish, Salinger deixou de publicar qualquer texto seu em 1965.
Tampouco permitiu que editassem seus textos esparsos, já publicados em revistas, em formato de livro -o último, "Pra Cima com a Viga, Moçada/Seymour, uma Introdução" saiu em 1963.
O portão de sua casa deixou uma fresta à vista pela primeira vez nas últimas décadas quando descobriu-se -literalmente foi uma descoberta, não um anúncio-, que o último conto publicado por Salinger, em 1965, sairia em livro (leia texto abaixo).
Sonny, como o escritor era chamado pelos pais, um importador de frios judeu e uma escocesa cristã, sinalizou, com a mesma descrição que lhe é habitual, que deixaria para trás a última declaração que fez para a imprensa.
Em um bilhete -ele nunca se atreveria a falar com um jornalista- ele explicava: "Tenho um fantástica sensação de paz ao não publicar meus trabalhos. Veria sua livre circulação como um tremendo atentado à minha privacidade. Gosto muito de escrever. Mas somente para mim mesmo, para meu prazer pessoal".
Estaria ele deixando aquilo que Rosenbaum descreveu como o Partido do Silêncio -agremiação em que estariam Thomas Pynchon e o tímido Don DeLillo- para seguir o caminho de Norman Mailer, autor de "Publicidade para Mim Próprio"?
Aos fãs de Holden Caulfield e Seymour Glass, e de mais um restrito leque de personagens, resta por enquanto a releitura das cerca de 700 páginas que Salinger já publicou, além da torcida para que o autor abra as comportas da enxurrada de textos que se especula que tenha escrito durante a hibernação de 40 anos.

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