São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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EUA não aceitam negociar com o Iraque

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

"Não estamos interessados em diálogo. Estamos interessados em obediência." Essa foi a resposta da Casa Branca, sede do governo dos EUA, à proposta feita pelo Iraque para negociar a composição da comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) que fiscaliza o desarmamento no país.
O governo de Saddam Hussein impediu a entrada no país de cidadãos norte-americanos que faziam parte da comissão, criada depois da Guerra do Golfo, em 1991, para verificar se o Iraque está se desfazendo de suas armas de destruição em massa, como exigia o cessar-fogo.
Saddam disse que iria negociar com as Nações Unidas a nacionalidade dos integrantes da comissão. Mas tanto o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, quanto o porta-voz da Presidência dos EUA, Mike McCurry, negaram que este seja o objetivo da equipe da ONU que chega hoje a Bagdá.
"Ela vai a Bagdá para deixar claro que Saddam Hussein tem que obedecer às resoluções da ONU", disse McCurry. Annan afirmou que a equipe vai "discutir com os iraquianos uma firme implementação das resoluções da ONU".
O embaixador dos EUA junto à ONU, Bill Richardson, disse que o Iraque fez ameaças contra os aviões dos EUA que sobrevoam aquele país para assegurar obediência às zonas de exclusão aérea ali estabelecidas e as classificou de "escalada irresponsável" da crise.
Os preços do petróleo subiram de novo ontem diante do agravamento da situação. Desde terça-feira passada, o preço do barril de petróleo subiu cerca de US$ 1. Só ontem, o aumento foi de US$ 0,43.
McCurry voltou a afirmar ontem que os EUA não eliminaram nenhuma possibilidade de resolução do impasse quando questionado se ainda havia a opção de ataque militar unilateral contra o Iraque.
Os EUA e o Reino Unido insinuaram na semana passada que a recusa iraquiana em deixar entrar no país os integrantes norte-americanos da comissão da ONU poderia ter como resposta uma ação militar. França, Egito e Rússia disseram que vão se opor a qualquer iniciativa bélica contra o Iraque.
Embora os EUA ainda não tenham estabelecido formalmente um prazo para a situação ser resolvida, McCurry disse ontem que seu governo quer o problema solucionado durante "esta semana".
A comissão que chega hoje a Bagdá é constituída por um argelino (Lakhdar Brahimi, enviado especial da ONU ao Afeganistão), um argentino (Emilio Cardenas, ex-embaixador de seu país junto à ONU) e um integrante do Ministério das Relações Exteriores sueco.
O ex-ministro das Relações Exteriores da Holanda Max van der Stoel, que foi enviado pela ONU ao Iraque para fazer um relatório sobre as condições de respeito aos direitos humanos no país, disse ontem que ali não existe liberdade de pensamento, opinião ou associação e que "centenas de prisioneiros políticos" podem ter sido executados este ano em uma só prisão.
Entre as informações do relatório está a de que é proibida a instalação de antenas parabólicas no Iraque. A pena para quem desobedece a proibição são o confisco de todos os bens que estejam na casa do infrator e confinamento em solitária por tempo indeterminado.
O governo do Iraque resolveu barrar os norte-americanos da comissão da ONU em represália à manutenção do embargo econômico contra o país. O ministro da Informação do Iraque, Human Abdul Khaliq, diz que a ONU é "bem-vinda" ao país. "Só os norte-americanos são barrados."
Mas o Conselho de Segurança resolveu que a proibição é uma afronta que não pode ser aceita

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