São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DELÍRIOS DAS OPOSIÇÕES

As "Teses para a Elaboração do Programa Democrático e Popular", elaborado por membros do PC do B, do PDT, do PSB e do PT, compõem um estranho documento. Em 85 tópicos, os autores decretam que o país deverá crescer de maneira sustentável, sem problemas externos e com igualdade social a partir da vitória da coalizão de esquerda em 1998.
Os autores das teses dizem que procuraram combinar clareza, rigor analítico e credibilidade na elaboração da proposta. Se procuraram, não conseguiram. Apenas acumularam, se não irresponsabilidade, pelo menos falta de capacidade analítica e voluntarismo, características que dão o tom do documento. Exemplo, na área da saúde: o "atual governo é responsável pelo caos do atendimento, a corrupção generalizada e o uso incorreto dos recursos". Que o atual governo não prima pelos cuidados com a saúde pública, é notório, mas daí a afirmar-se que a gestão FHC é a única culpada por mais de 20 anos de descalabro há um abismo. Ademais, é irresponsável dizer que não há honestidade em parte alguma do sistema de saúde. É um exemplo do rigor das "teses". Mas há mais graves.
Numa série de afirmações taxativas, sem a menor relação com a realidade do país, sem dados ou argumentos técnicos, as "teses" estabelecem que a estabilidade da moeda depende do crescimento, acelerado e sustentado, com distribuição de renda e um forte mercado interno de produtos básicos. Ao mesmo tempo, as contas externas serão financiadas com o fomento das exportações.
Um novo Estado, "com atribuições ampliadas", vai dirigir investimentos internos e externos para a indústria e a agricultura. O "Governo Democrático e Popular" pretende alongar a dívida interna para aliviar as finanças públicas e ajudar e "desmobilizar a ciranda financeira". Só faltou explicar como.
Tudo enfim é possível no delírio das "teses". Pena que não combine com a existência de um país real, com problemas reais, a partir dos quais deveria surgir um programa e não um panfleto que até os centros acadêmicos dos anos 60 teriam dificuldade em assinar. Tal atitude inviabiliza o confronto de idéias num momento em que o país se ressente da ausência de uma oposição ativa, sem a qual, a rigor, não há democracia.

Texto Anterior: ATRÁS DO AJUSTE PERDIDO
Próximo Texto: REVÉS E FUTURO ESPACIAL
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.