São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
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Biblioteca exibe o Mário fotógrafo

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A viagem que o escritor Mário de Andrade fez à Amazônia há cerca de 70 anos não só lhe abriu as portas do entusiasmo pelas manifestações culturais brasileiras como revelou seus dotes fotográficos.
Os resultados estão na mostra "O Turista Aprendiz", que a Biblioteca Mário de Andrade apresenta no Encontro da Cultura Brasileira 1997.
Com uma câmera codaque, como a chamava, em forma de caixa, ele tirou 500 fotos e trouxe um mundo de notas sobre o folclore e os costumes populares.
As anotações foram usadas para a revisão da obra "Macunaíma", escrita entre dezembro de 1926 e janeiro de 1927, e lançada em julho de 1928.
As fotos foram catalogadas, recebendo anotações detalhadas no verso, como data, local, horário, abertura do diafragma, gradações de luz, sombras, reflexos e suas impressões pessoais.
Mário de Andrade, fotógrafo ou turista aprendiz, como se autodenominava, não desvinculou o olhar fotográfico do poeta, fazendo da câmera o papel e, da imagem, sua escrita.
A concepção das composições mostra acuidade técnica e explora todas as possibilidades cênicas, como os cortes, os planos e contraplanos, profundidade de campo e as perspectivas.
Os conhecimentos se originaram do seu interesse pela fotografia e da leitura das últimas novidades sobre técnicas fotográficas.
A revista alemã "Der Querschnitt" (O Corte Vertical) era uma de suas preferidas. As edições preconizavam o valor da fotografia na documentação ambiental.
Com base nessa idéia, somou a habilidade adquirida nas reuniões familiares e com os amigos, e fez o ensaio sobre a Amazônia.
Explorou os closes para registrar os aspectos físicos dos habitantes da região, o vaqueiro marajoara e as crianças do rio Solimões.
Mário fotógrafo apontou sua codaque para os companheiros de viagem. Olívia Penteado (1872-1934) aparece intocável, sempre ao longe, emoldurada pelas paisagens silvestres, denotando a admiração de Mário por ela. Na coleção também estão a pintora Tarsila do Amaral e o escritor Oswald de Andrade, em Iquitos.
Em 1928, em viagem ao Nordeste, o escritor direcionou seu trabalho às pesquisas etnográficas.
Em 1937, concebeu a "Missão de Pesquisas Etnográficas", ao Norte e Nordeste, para fotografar, filmar e gravar as manifestações folclóricas que conhecera dez anos antes.

Exposição: O Turista Aprendiz
Onde: Biblioteca Mário de Andrade (r. da Consolação, 94, tel. 011/256-5777, centro) Quando: de seg a sex, das 9h às 21h; sáb, das 9h às 18h; até 12 de novembro Quanto: entrada franca

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