São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997 |
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Ermírio festeja vitória do capital nacional
ANTONIO CARLOS SEIDL
O empresário Antonio Ermírio de Moraes, 69, vice-presidente do conselho administrativo do Grupo Votorantim, disse que a vitória do consórcio VBC Energia (grupos Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa) no leilão de privatização da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), na quarta-feira passada, foi uma vitória do capital privado brasileiro contra o monopólio estatal francês. Referindo-se à compra da Light pela estatal francesa EDE (Éléctricité de France), Ermírio disse que, se é para privatizar, é melhor que fique nas mãos de capital 100% nacional. Antonio Ermírio disse que, se os juros ficarem altos, o país vai ter um Natal "bastante triste". * Folha - Quais são seus planos para a CPFL? Antonio Ermírio de Moraes - É importante destacar primeiro que foi uma vitória do capital privado nacional. Mostramos que estamos aí para fazer frente ao monopólio francês. A Light passou de estatal brasileira para estatal francesa. A Tractebel é uma companhia estatal da Bélgica, tem alguns capitais privados, mas é o governo que manda nela. A EDF (Éléctricité de France) é uma estatal francesa. Se vai passar para o setor privado que fique nas mãos de brasileiros. Folha - O ágio de 70,15% surpreendeu até os mais otimistas. Ermírio - Foi um recado de que entramos para ganhar. Folha - O sr. acabou não presenciando o leilão. Por quê? Ermírio - Não, mas não adiantava nada, pois já tínhamos fixado as condições na quinta-feira. Viajei na sexta-feira à noite para um encontro em Nova York do Instituo Internacional dos Produtores de Alumínio Primário, do qual sou vice-presidente. Tinha de ir, mas dava para chegar para o leilão. Se não cheguei, a culpa é da Varig. Folha - Atrasou o vôo? Folha - É verdade. A previsão era chegar a São Paulo por volta das 7h, mas chegamos com uma hora e meia de atraso. Falei com meus parceiros de Nova York, estava tudo certinho, não tinha erro. Do aeroporto telefonei e fiquei sabendo que nós tínhamos ganho. Folha - Quantos envelopes a VBC levou para o leilão? Ermírio - Isso não sei... Folha - Circularam rumores de que havia quatro. É verdade? Ermírio - ...(risos) É fofoca, mas no mínimo dois. Como não estava lá presente não gosto de vender a informação pelo preço da fatura... Folha - Levando em conta a incerteza causada pelo crash global da semana anterior, o sr. esperava quatro concorrentes? Ermírio - Foi bom ter quatro competidores. No caso da privatização (da Vale) dizia-se que o governo tinha preparado para a vitória da Votorantim. Foi até bom ter perdido para não dizerem que foi tudo combinado entre o Fernando Henrique e o Antonio Ermírio. Foi bom até perder. A vontade de fazer fofoca foi por terra. Folha - Quais são os planos da Votorantim no setor elétrico? Ermírio - Temos que começar a trabalhar muito nesse setor porque há muito a melhorar na distribuidora Norte-Nordeste que compramos lá no Rio Grande do Sul. A CPFL é uma companhia bem organizada, mas temos entrar nela para saber direitinho. Não quero falar por antecipação sem conhecer a empresa por dentro. De uma maneira geral, porém, temos conhecimento de que ela opera bem. É cedo para falar de planos. Tomar guaraná e arrotar champanhe é muito ruim... Folha - Há preocupação com a redução de funcionários? Ermírio - Tem que entrar com calma para que as pessoas não fiquem desesperadas pensando que nosso objetivo é tirar gente. É preciso ser prudente porque tem muita gente boa lá dentro. Folha - Como o sr. está avaliando a decisão do governo de dobrar os juros para defender o real de um ataque especulativo? Ermírio - É complicado. O negócio está muito complicado. Acho que é mais complicado do que está parecendo. Folha - As Bolsas asiáticas e européias voltaram a cair. Ermírio - O que é triste em tudo isso é que há um excesso de liquidez em todo o mundo. Acho o jogo de Bolsa muito imprudente para pessoas de classe média. Essas pessoas é que saem perdendo com a especulação. Os especuladores não têm a menor compaixão de quem investe pequenas poupanças nas Bolsas. O capital que vai para as Bolsas é nocivo. O que tem de vir para o Brasil é o capital para produzir, para melhorar a competitividade do país. Esse capital especulativo não tem pátria. Folha - Falando em investimento produtivo, quanto é que a VBC Energia vai investir? Ermírio - Como disse, temos que fazer um balanço das nossas atividades. Estamos preparando um relatório para um plano de ação, que vai ficar pronto até a semana que vem. Comprar é o mais fácil. Depois tem que estudar quais são os gargalos para decidir onde vamos investir. Folha - O sr. pretende entrar nas outras privatizações, da Cesp, Eletropaulo, Comgás? Ermírio - É preciso cautela para evitar comentários que não são nada saudáveis. Esse relatório vai indicar os próximos passos. É preciso ter juízo, ver quais são as necessidades. Folha - De que tipo? Ermírio - Necessidades de complementação, por exemplo. Folha - O que especificamente? Folha - Estou assim meio fluido porque não entramos ainda na empresa. Temos que parar, colocar a cabeça no lugar. Folha - Mas a Cesp interessa? Ermírio - A Cesp é muito grande. É a maior geradora de energia do Brasil. Precisa ver bem quem é que vai comprar essa empresa. Folha - Qual é a sua expectativa para a economia no final do ano? Ermírio - Se os juros ficarem altos, vamos ter realmente um Natal bastante triste. O comércio se assustou com essa alta de juros, não está comprando mais. O comércio está estocado. Pode acontecer que tenha que se reestocar para o Natal. Vai manter as taxas de juros para poder desestocar para fazer dinheiro. E depois quando chegar janeiro é que vamos ver com quantos paus se faz uma canoa. Folha - O sr. vê condições de baixar os juros rapidamente? Ermírio - Se baixar muito, os investidores estrangeiros vão embora de novo. É uma gangorra. Mas sempre disse que o capital estrangeiro é bem-vindo ao Brasil, mas aquele capital produtor, empreendedor, não o especulativo. Folha - É uma sinuca de bico? Ermírio - Em português claro, é por aí... Folha - Qual é a saída? Ermírio - Fazer as reformas estruturais. As reformas são absolutamente necessárias. Meu pedido ao Congresso é: pelo amor de Deus, vamos fazer as reformas já. Se não, vamos para a cucuia, com boa vontade ou sem boa vontade. Tem que fazer as reformas doa a quem doer. Texto Anterior: Coelba é mais cara por energia distribuída Próximo Texto: Vencedor levou dois envelopes Índice |
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