São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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A Coréia e o Brasil

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O Brasil tem lá a sua participação na crise coreana, embora muito difícil de se medir exatamente. Ocorre que bancos coreanos, agora em dificuldades, compraram muitos títulos da dívida brasileira (conhecidos por "bradies" no jargão da finança internacional).
Quando a situação do país emissor do título piora, cai o valor do papel. O que vale dizer que os bancos coreanos que compraram os tais "bradies" estão tendo o prejuízo decorrente das desconfianças em relação ao Brasil.
Lógico que não são os "bradies" brasileiros os responsáveis pela crise da Coréia, que começa a ser desenhada como a bola da vez na fantástica ciranda armada no planeta. Mas têm lá a sua parcela de participação.
Pior para o Brasil será se os bancos coreanos, atolados em dificuldades, tiverem que se desfazer dos títulos. Nessa hipótese, o valor dos papéis cairá ainda mais e, em consequência, se reduzirá na mesma proporção a confiança dos mercados no Brasil.
É bom lembrar que, no "ranking" que a revista britânica "The Economist" publica toda semana, a Coréia era a segunda colocada, entre os países ditos emergentes, no campeonato de maior déficit em conta corrente (o que mede todas as transações externas de um país).
O primeiro era o Brasil.
O que significa dizer que, se a Coréia capotar, o Brasil passa a correr o risco máximo de se tornar a bola da vez, tal como dizia, de resto, análise do banco norte-americano de investimentos Morgan Stanley, reproduzida por esta Folha.
Mas, atenção, quando se diz bola da vez, não é alusão ao jogo das Bolsas. Essas caem hoje, sobem amanhã, voltam a cair depois de amanhã, mas, no caso específico do Brasil, representam pouco.
O problema está na moeda, não na Bolsa. Quando o Banco Central jogou os juros na lua, não foi para salvar a Bolsa, mas a moeda. É aí que mora o perigo.

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