São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Energéticos enganam e não dão mais pique

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O povo da noite e os "malhadores" de academia que andam tomando energéticos ou "energy drinks" para ter mais pique estão jogando dinheiro fora. Além de caros (cerca de R$ 5 a lata) e de deixarem a desejar no quesito "energia extra", os produtos podem provocar maior consumo de álcool.
Vários deles (com nomes sempre sugestivos) já circulam pelas principais cidades do país: Flying Horse, Flash Power, Hype, Up your Gas etc. Apesar de os rótulos trazerem proibição ao consumo simultâneo dos energéticos com álcool, eles são, via de regra, misturados com uísque, vodca ou pinga.
Mas o que é que os energéticos têm para causar esse pique? A composição traz uma dose de cafeína de cerca de 80 mg por latinha -a mesma concentração que se encontra em uma pequena xícara de café expresso.
No item calorias, a latinha (250 ml) de energético não ultrapassa 120 kcal. Só para comparar: um copo de cerveja do tipo pilsen (300 ml) tem 129 kcal, uma lata de coca-cola (350 ml), 142 kcal, e uma dose de uísque (100 ml), 280 kcal.
Se a cafeína e o valor calórico não justificam o pique, será que os outros componentes explicariam a mágica? A taurina, principal composto (1 g por latinha), não é a resposta. Produto do metabolismo final do aminoácido cisteína, ela integra os sais biliares (que participam da digestão de gorduras) e parece tomar parte na síntese (produção) de alguns hormônios.
A glucuronolactona é um açúcar derivado do metabolismo da glicose. É um "agente desintoxicante" que trabalha no fígado. O mio-inositol também é derivado do metabolismo da glicose e é facilmente obtido por meio da alimentação. Portanto, não há justificativa para a origem do pique.
Os especialistas são mais categóricos. Júlio Tirapegui, professor do departamento de alimentos e nutrição experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, diz que efeitos como ânimo e energia se devem muito mais ao álcool do que ao energético. Segundo ele, os energéticos têm aromatizante semelhante ao caramelo, que acaba mascarando o cheiro e o sabor dos destilados, o que leva a pessoa a beber mais facilmente. E o álcool produz inicialmente sensações de desinibição, euforia e valentia.
Tirapegui diz que experimentou o energético Flash Power. "Não senti nenhuma diferença." Antônio Herbert Lancha Júnior, coordenador do laboratório de nutrição aplicada à atividade motora da Escola de Educação Física e Esporte da USP, acredita que o maior efeito dos energéticos seja placebo. Ou seja, segundo ele, as pessoas ficam sugestionadas a se sentir com mais pique.

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