São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Yara Bernette faz recital grátis hoje em SP

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de quase quatro décadas na Europa, a pianista brasileira Yara Bernette voltou, há alguns anos, a radicar-se em São Paulo.
Quem quiser ouvir de perto aquela que é atualmente considerada a primeira-dama do piano brasileiro não deve perder seu recital hoje, no auditório do MuBE (Museu Brasileiro da Escultura).
A pianista interpreta Mozart, Galuppi, Debussy e Chopin e exibe todo o refinamento que a levou a exercer, por quase três décadas, o cargo de catedrática na Escola Superior de Música de Hamburgo.
Quando retornou ao Brasil, Bernette imaginava poder dar continuidade a seu trabalho, no mesmo nível em que estava habituada, mas não esconde sua decepção diante das circunstâncias que aqui encontrou: "O Brasil não valoriza seus próprios artistas", diz. "Basta voltar para cá para ser considerada novamente quase como uma artista local. As pessoas pensam que o artista brasileiro só volta do exterior se fracassou."
Crítica da política de patrocinadores e promotores de música erudita, Bernette acha que acabam criando um círculo vicioso: "O Brasil não valoriza sues próprios artistas e o primeiro pensamento do jovem que ganha algum concurso é ir embora. Quem fica por aqui é deixado de lado. Os patrocínios são todos para os músicos internacionais que vêm de fora".
Essa situação paradoxal do artista brasileiro, que só é valorizado aqui se for antes no exterior, significa uma perda, pois os músicos brasileiros, já na geração de Bernette, se beneficiam da singular mistura de escolas característica do mundo musical sul-americano.
"Professores excelentes, emigrados de várias regiões da Europa, instalaram-se aqui, e os artistas sul-americanos há muito desfrutam desta variedade. Martha Argerich, Bruno Gerber, Nelson Freire e Antônio Meneses tiveram formações ecléticas ainda antes de deixarem a América do Sul, e foram muito bem recebidos na Europa. Todos ganharam com essa multiplicidade de influências", diz.
Bernette acha arriscado falar em uma genuína "escola brasileira". Para ela, os artistas estão mais internacionais do que nunca.
"As técnicas das escolas russa, francesa e alemã estão se misturando muito e hoje já há professores que usam todas as técnicas, escolhendo o que cada uma tem de melhor." Ela mesma deriva seu pianismo de duas fontes principais: aluna de um grande professor russo em São Paulo, continuou sua formação com o chileno Cláudio Arrau, de formação alemã.

Recital: Yara Bernette
Quando: hoje, às 11h
Onde: Auditório do MuBE (r. Alemanha, 221, tel. 011/881-8611)
Quanto: entrada franca

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