São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Entre o oportunista e o empreendedor

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A imprensa brasileira criou uma nova dicotomia entre o "custo Brasil" e o "susto Brasil". Hoje, especula-se sobre qual dos dois é mais grave.
Uma discussão desse tipo será infindável, e tenho dúvidas sobre sua verdadeira utilidade. O Brasil não pode continuar com nenhum deles.
A Folha de 2/11 publicou interessante matéria sobre globalização mostrando que a notícia da morte de Abraham Lincoln chegou à Europa depois de 13 dias, enquanto o estouro da Bolsa de Hong Kong repercutiu no Brasil em apenas 13 segundos.
Essa extraordinária integração entre os mercados financeiros traz esperanças e apreensões. Não há dúvida de que as telecomunicações e a informática facilitaram os contatos e vêm alavancando muitos novos negócios em tempo recorde.
Por outro lado, elas transmitem, com igual vigor, os impactos da especulação, promovendo a destruição instantânea de grandes volumes de capital que poderiam ser direcionados à produção e geração de empregos.
Essa lição foi aprendida. Ficou claro que o Brasil faz parte dessa nova ciranda e que a nossa vulnerabilidade é grande. Os especuladores decidiram testar o mercado brasileiro e provaram que ele não é diferente dos demais emergentes.
O importante agora é reconstruir a confiança. A elevação dos juros foi o expediente de urgência que estava à mão das autoridades monetárias. Mas ele serve apenas para atrair um tipo de capital muito especial -o oportunista-, que aqui fica o estritamente necessário para se beneficiar de lucros extraordinários de taxas sedutoras.
A confiança só estará consolidada quando o Brasil atrair não o oportunista, mas o empreendedor. Para isso, é preciso explicitar as intenções do país.
Se o país está cheio de ralos, gasta mais do que arrecada, acumula dívidas e não toma medidas concretas para corrigir os desequilíbrios, não há quem convença o capital empreendedor a realizar investimentos produtivos. O Brasil precisa fazer essa travessia e reconquistar (ou conquistar) a confiança dos empreendedores. Para tanto, as reformas econômicas são essenciais.
Muitos argumentam que elas não vão produzir um superávit imediato nas contas da Previdência Social e de outras áreas do Orçamento público. Isso é verdade. Assim como é verdade que elas são sinalizadoras importantíssimas para os investidores (interno e externo) saberem em que tipo de país estarão investindo.
Se nada for feito, continuaremos sob o duplo pesadelo do "custo Brasil" e do "susto Brasil". Mas, se o país demonstrar seriedade na conduta do futuro, ninguém conseguirá segurar o afluxo de capitais empreendedores que para cá virão em busca de retornos seguros -gerando empregos e os necessários impostos para atender o social.

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