São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Sindicalistas temem mais desemprego

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

As lideranças sindicais ouvidas pela Folha temem que o pacote fiscal de hoje resulte em aumento do desemprego e dos impostos para os trabalhadores.
"Os juros já estão altos. Se tiverem mais medidas para criar desemprego, não sei onde a coisa vai parar", diz Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e diretor da Força Sindical.
Paulinho estima que "a barra vai pesar no início de 98, com uma média de 15 mil demissões por mês só na minha base (cidade de São Paulo)". Isso se o governo mantiver os juros no patamar atual e sem considerar o pacote fiscal.
A situação pode se agravar, acredita, "caso o pacote eleve muito os impostos para as empresas".
Paulinho diz que nunca havia visto, na sua vida de sindicalismo, férias coletivas em novembro.
"A tensão é grande nas fábricas. Férias coletivas é prenúncio de demissão", diz Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT. Segundo ele, os boatos de cortes no ABC e no Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, de onde acaba de voltar, são grandes. "A 'rádio Peão' só fala nisso."
O presidente da CUT acredita que poderá haver também demissões no setor público. "Na lógica errada do governo, essa medida é bem provável", diz Vicentinho.
Para Vicentinho, também um possível aumento de impostos vai recair "sobre as costas dos trabalhadores". "Se o governo aumenta as taxas do comércio, indústria ou bancos, todos repassam para o trabalhador", afirma Vicentinho.
Paulinho acredita que, dependendo do imposto a ser elevado, o impacto pode até ser positivo sobre o emprego. "Se for o Imposto de Importação é até bom, pois protege a nossa indústria. E também podemos ganhar com incentivos à exportação."
Paulinho concorda com uma alíquota maior para o Imposto sobre Produtos Industrializados para cigarros e bebidas, por exemplo.
Ricardo Berzoini, presidente do Sindicato dos Bancários (base da CUT), acha que faltou vontade política ao governo para realizar uma reforma tributária profunda, que desonerasse a produção e a população de baixa renda.
"Agora, eles têm pouca margem de manobra. Tentam apenas mandar sinais para o mercado financeiro", diz Berzoini. Para ele, é "muito ruim cortar mais verbas sociais e subir impostos".
Segundo Berzoini, se o governo mantiver os juros altos, "será obrigado a queimar todas as estatais para pagar juros da dívida".
O sindicalista teme também uma retração no crédito ao consumidor, com desemprego ainda maior entre os bancários.

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