São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Gilbert Shelton traz Freak Brothers ao país

PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em um ano em que já passaram pelo Brasil Will Eisner, Jim Davis e Jerry Robinson, chega hoje em Porto Alegre mais um grande nome das histórias em quadrinhos: Gilbert Shelton, o criador dos Freak Brothers.
O texano vem ao Brasil para participar da 43ª Feira do Livro de Porto Alegre. Hoje, às 14h, ele apresenta uma palestra de quatro horas na sede do evento (na pça. da Alfândega, centro de Porto Alegre, com entrada franca).
Para a palestra, Shelton está trazendo cerca de 200 slides de obras suas e de Robert Crumb -este, como Shelton, um dos maiores ícones do quadrinho underground norte-americano. Crumb também participaria da Feira, mas seguiu para Califórnia para assistir ao casamento de seu filho.
Também estarão na mesa, que será mediada pelo jornalista Eduardo Bueno, três quadrinhistas brasileiros: Angeli e Adão Iturrusgarai, colaboradores da Folha, e Carlos Eduardo Miranda.
Muita maconha
Shelton chega ao Brasil quando seus personagens mais famosos completam três décadas de vida -os Freak Brothers apareceram pela primeira vez em 1967 na revista alternativa "Austin Rag".
Hoje, os três irmãos cabeludos permanecem do mesmo jeito que eram quando foram criados: curtindo a vida intensamente, em contato constante com altas doses de bebida, comida, maconha e drogas em geral.
Shelton e Crumb participaram de uma geração de quadrinhistas que não se atrelava ao mercado. Suas histórias, e, especialmente, seus personagens, não seguiam as convenções predeterminadas que deveriam ser obedecidas pelos "bons cidadãos".
Trabalhar duro para ganhar bem, evitar as drogas ou ser fiel a um único amor não são características dos personagens dessa era.
O Wonder Wart Hog, o Suíno de Aço, é um exemplo dessas HQs underground. Criado por Shelton em 1961, ele era um porco machista e reacionário, possuidor de um pênis "desavantajado" e de um apetite sexual neurótico.
O Gato Fritz, de Crumb, também não era um modelo do "american way of life": diferentemente dos gatos que o antecederam nas HQs, como o sorridente Félix ou o arteiro Krazy Kat, Fritz era direcionado a um público adulto -e passava algumas de suas histórias imerso em orgias dentro de sua banheira.
Os Freak Brothers -Fat Freddy, Phineas Freak e Freewhelin Franklin- surgiram nesse universo, que continha, ainda, influências da contracultura americana. Era a época de William Burroughs, de Timothy Leary, do ácido lisérgico, de paz e amor.
É esse período de florescimento dos quadrinhos underground norte-americanos, e onde os quadrinhos de Crumb e companhia se inserem nele, que estarão sendo destrinchados hoje na palestra de Shelton.
Em português
Apesar da obra de Shelton ser extensa, não são muitas as histórias dos Freak Brothers encontráveis em português.
No Brasil, foram publicados apenas três volumes com as aventuras do trio excêntrico, todos pela gaúcha L&PM.
A mesma editora publicou ainda "As Aventuras do Gato de Fat Freddy", cujas histórias giram em torno do cínico felino criado por Shelton em homenagem ao Krazy Kat, histórico personagem de George Herriman publicado no início do século.
Aproveitando a vinda de Shelton, a editora se prepara para relançar os quatro álbuns do autor e desenhista texano.

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