São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Ieltsin tenta vender gasoduto à China

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente russo, Boris Ieltsin, chegou ontem a Pequim para uma visita oficial de três dias e com uma ambiciosa proposta para a China: construir um gasoduto da Sibéria até o território chinês. O projeto, avaliado em US$ 12 bilhões, exemplifica a estratégia russa de usar suas fontes de energia para aumentar o comércio bilateral.
Ieltsin desembarcou para a sua quinta reunião de cúpula com o presidente chinês, Jiang Zemin, desde 1992. Os dois países se aproximam com a estratégia comum de buscar um mundo multipolar, sem a atual hegemonia dos Estados Unidos.
Rússia e China caminham sobre uma linha fina. Rejeitam a preponderância de Washington, mas não podem abrir mão dos investimentos norte-americanos para alimentar suas reformas pró-capitalismo.
"Nós temos tradições gloriosas de amizade e destinos históricos comuns, assim como lições amargas de desavenças", disse Ieltsin antes de partir de Moscou. "Nós não estamos apenas unidos pela geografia, história e tradição. Estamos lidando com uma meta única -entrar no próximo século com uma economia forte, reformada e em crescimento", acrescentou o presidente.
Além do aspecto da diplomacia global, a cúpula também deve produzir resultados no campo das relações políticas bilaterais. China e Rússia planejam assinar um acordo para a demarcação final de sua fronteira comum, de 4.300 quilômetros.
Em 1969, durante a Guerra Fria e auge da rivalidade sino-soviética, Pequim e Moscou travaram combates de fronteira que quase levaram à guerra total.
Essa rivalidade da Guerra Fria foi precedida por uma aliança nos anos 50, quando a União Soviética e a China, potências comunistas, prometiam "destruir o capitalismo".
Na década seguinte, os dois países romperam em função da disputa pela liderança do movimento comunista mundial. Nos anos 70, a China se aproximou dos Estados Unidos, para uma aliança contra Moscou.
Reaproximação
O fim da Guerra Fria significou a reaproximação. Ieltsin, que usou o dia de ontem em Pequim para descansar e preparar documentos, enfatiza os laços com países asiáticos, depois da acentuada orientação pró-Washington dos primeiros anos de seu governo, no começo desta década.
A agenda econômica da reunião de hoje destaca o projeto de gasoduto da Sibéria. Trata-se de uma região rica em recursos minerais, próxima à fronteira com a China.
O gasoduto, que atravessaria a Mongólia, também forneceria gás ao Japão e à Coréia do Sul. Os dois países, assim como a China, precisam de energia para mover suas dinâmicas economias.
Além de gás e petróleo, a Rússia oferece à China eletricidade e cooperação nuclear.
Crise russa
Moscou, ainda mergulhada na crise econômica que chegou com a falência do desaparecido sistema soviético, deseja aproveitar as oportunidades de negócios na China.
A economia chinesa, desde 1979, cresce a uma média anual de cerca de 9%, graças às reformas pró-capitalismo controladas pelo Partido Comunista.
O comércio bilateral atingiu no ano passado US$ 7 bilhões e os dois governos anunciaram a meta de US$ 20 bilhões para o final do século, cifra considerada "muito elevada" por diversos economistas russos.
Na semana passada, o embaixador chinês em Moscou, Li Fenglin, reclamou dos vizinhos russos, ao dizer que Moscou deveria aumentar seus esforços para atingir o crescimento desejado no comércio bilateral.
"Por exemplo, os russos querem nos vender aviões civis como o Ilyushin-96 e o Tupolev-204, mas nem a Aeroflot (companhia aérea russa) quer tais aviões, e isso significa que deve haver algo errado nesse negócio", afirmou Li Fenglin.

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