São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
Texto Anterior | Índice

Mercado vê 'saco de maldades' vazio

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A sensação disseminada ontem no mercado financeiro pelo pacote econômico é que o "saco de maldades" do governo se esvaziou. "Agora só resta a maldade suprema", resumiu um operador. Isto é: a temida desvalorização cambial.
A alta de 1,96% na Bolsa de Valores de São Paulo ontem, em comparação à queda acumulada de 29,2% nos 30 dias anteriores a sexta-feira passada, dá a medida da confiança dos investidores na eficácia das medidas adotadas.
Eles vêem dois problemas principais:
1) As medidas não resolvem o problema central, a defasagem cambial, que faz o mercado internacional colocar o Brasil no mesmo barco avariado dos asiáticos.
2) O governo não tem mais o controle sobre a duração do arrocho, já que a crise está além das fronteiras nacionais.
"O governo virou refém do mercado externo", diz o deputado Delfim Netto (PPB-SP).
Isso significa que a alta dos juros, a contenção do crédito e a elevação dos impostos não têm prazo para voltarem ao patamar em que estavam antes da crise.
Se a alta dos juros na semana passada havia prejudicado principalmente a população de baixa renda, que se beneficiava do crediário, as medidas de ontem atingem o bolso da classe média.
A menos de 11 meses da eleição presidencial, a falta de perspectiva de um fim para ações tão impopulares é um dado que preocupa o governo e aqueles cujos investimentos dependem da estabilidade da atual política econômica.
"Se o mercado desconfiar que o governo vai afrouxar o cinto, virá um novo ataque especulativo", prevê Paulo Yokota, que faz consultoria para empresas japonesas.
Os bancos japoneses estimam em cinco anos o prazo para que todos os efeitos da crise das Bolsas sejam absorvidos. É que a lista de atingidos pela queda das Bolsas envolve uma cadeia de empresas: desde imobiliárias de Hong Kong até os próprios bancos japoneses, avalistas de 50% dos empréstimos para a região em crise.
Yokota diz que o país precisa do ingresso de US$ 65 bilhões este ano para fechar suas contas externas. Ou seja: pagar a dívida e custear o déficit comercial e de serviços.
Para o próximo ano, a necessidade de financiamento externo é estimada em US$ 60 bilhões, segundo ele. "O problema é que o mercado mudou, ficou mais conservador: vai aplicar menos nos países emergentes e mais nos EUA", prevê.
Sobre a consistência das medidas adotadas, as críticas vêm de todos os flancos. De um lado, Delfim diz que "o pacote foi um teatro, que só vai pegar a classe média".
"Houve uma queda de arrecadação em relação ao que estava previsto no orçamento. Isso que foi anunciado é apenas um ajuste de contas. Não vai sobrar nada mais no caixa do governo", explica.
Outras medidas, como a demissão de funcionários públicos não estáveis, já foram anunciadas em outros pacotes e nunca levadas a cabo, lembra o deputado.
Ontem, era corrente uma avaliação no mercado segundo a qual a situação fiscal da União após a implantação de todos os cortes será a mesma de há uma semana, antes de os juros subirem.
A explicação é simples: a multiplicação das taxas de juros catapultou o custo de rolagem da dívida interna à estratosfera.

Texto Anterior: Mercado vê 'saco de maldades' vazio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.