São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Ioga Bulls

MELCHIADES FILHO

Com um pouco de exagero a imprensa de Chicago já considera impossível o hexacampeonato. Mas é verdade que os Bulls começaram titubeantes a temporada 97/98 da NBA.
Já perderam duas vezes em sete dias. Em 1996, compare, só viriam a sofrer o segundo revés exatas cinco semanas depois da abertura do torneio.
Quais as razões da queda?
Em primeiro lugar, o versátil ala Scottie Pippen, que está se recuperando de cirurgia no pé e só deve retornar às quadras em janeiro, faz falta demais.
Estatisticamente -computados pontos, rebotes, assistências, bloqueios e desarmes-, ele responde por mais de 20% da produção dos Bulls.
Somente outros dois atletas da NBA são fundamentais para seus times nessa proporção -Grant Hill (Detroit) e Anthony Mason (Charlotte).
Pippen também é o principal "ballhandler" do Chicago, o encarregado de conduzir a bola da defesa para o ataque.
Sem ele, essa tarefa foi delegada a Michael Jordan, o único outro com habilidade suficiente para cumpri-la.
Além de desgastar fisicamente o astro (Jordan já carregava nos ombros a missão de concluir os ataques do time), isso facilitou a vida dos oponentes.
O Boston, por exemplo, arrancou sua surpreendente vitória assim que percebeu a previsibilidade da gênese ofensiva dos Bulls e passou a exercer dupla marcação sobre a bola (leia-se Jordan) em toda a quadra.
Apostava-se que Toni Kukoc pudesse enfim, nessa situação, comprovar seu talento.
Mas, com dores no pé (a mesma contusão de Pippen, num grau menos agudo), o ala croata mostrou-se hesitante nessas primeiras seis rodadas.
Pesa também contra o Chicago o fato de formar, pela terceira temporada consecutiva, a equipe mais velha da NBA, com média de 30,4 anos.
Naturalmente, não ostentam a mesma energia os titulares Jordan, 34, Dennis Rodman, 36, e Ron Harper, 33.
O polêmico Rodman, por exemplo, reconheceu que não encontra mais motivação para manter o troféu de melhor reboteiro da liga americana.
Na verdade, o declínio do Chicago só não é mais gritante porque sua defesa está se superando. É a melhor da NBA, com 82,7 pontos por partida.
Conhecido por sua conduta heterodoxa -ele gosta de comprar livros zen-budistas para os atletas, por exemplo-, o técnico Phil Jackson resolveu cavoucar o baú à procura de luz.
A novidade já foi apresentada aos jogadores: sessões de ioga depois dos treinos e, às vezes, das próprias partidas.
"O atleta precisa aprender a respirar, a encontrar seu ponto de equilíbrio, a conhecer seu corpo", anunciou o treinador.
Anote: será mais fácil recuperar o time no torneio do que convencer os atletas a gastar uma hora na postura do lótus.

E-mail melk@uol.com.br

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