São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Empresas esperam retração nas vendas, mas ainda não demitem

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA

Enquete realizada pela Folha após o anúncio do pacote fiscal do governo, em um universo de 50 empresas e entidades empresariais, revela que o temor de queda acentuada na atividade econômica nos próximos meses é praticamente consensual.
Como decorrência da retração econômica, a perspectiva de aumento das demissões, que já existia, ficou ainda mais evidente.
A maioria das empresas ainda não iniciou uma onda de cortes de vagas por conta do pacote fiscal do governo. Mas essa possibilidade não está descartada.
Apesar de ainda estarem digerindo as medidas do governo, muitas empresas já reavaliaram cronogramas de investimentos.
Algumas montadoras de veículos já reduziram a jornada de trabalho. É o caso da Volkswagen, que suspendeu o trabalho nas segundas-feiras e sextas-feiras, a partir de amanhã, nas fábricas de São Bernardo do Campo e Taubaté.
Já os 6.900 metalúrgicos da Ford em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) poderão ficar 24 dias em casa, a partir de amanhã. A proposta, apresentada ontem pela montadora, será colocada em votação hoje, às 16h, durante assembléia da categoria na porta da montadora.
A Ford, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que discute com os sindicatos da categoria do ABCD, São Paulo e Taubaté "a melhor maneira de solucionar uma paralisação periódica, adequando volume de produção com as novas perspectivas de mercado de veículos". Não haverá redução de salário.
O diretor do sindicato na Mercedes, Adi dos Santos Lima, 41, disse que a Mercedes-Benz suspendeu na semana passada 280 contratações temporárias que faria até o final do ano.
A Mercedes disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que existia "um estudo" para possíveis contratações temporárias, mas foi descartado. A decisão não tem relação com o pacote, segundo a empresa.
Uma assembléia para explicar o pacote econômico do governo reuniu cerca de 4.000 metalúrgicos (de três turnos) na manhã de ontem em frente à unidade da Mercedes em São Bernardo do Campo.
Hoje, às 16h, a assembléia está programada para acontecer em frente à unidade da Ford, em São Bernardo.
A Fiat Automóveis afirma que manterá a produção inalterada, mas já comunicou aos funcionários que as horas extras estão suspensas até segunda ordem.
Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Alvimar da Luz Dias, a empresa cancelou o trabalho extraordinário, que normalmente acontece aos sábados. De acordo com o sindicato, a convocação de horas extras estava sendo frequente.
A assessoria de imprensa da Fiat confirmou que há uma orientação da empresa de evitar as horas extras, mas disse que não há previsão se essa decisão será por tempo indeterminado.
Segundo a assessoria, no próximo sábado (15/11) o expediente não funcionará por causa do feriado e nos próximos finais de semana dependerá da demanda.
Para a empresa, o cancelamento de horas extras não é indicativo de alteração de produção.
O presidente da BMW do Brasil, Michael Turwitt, afirmou ontem que não irá alterar os investimentos programados pela montadora no país.
Segundo ele, a empresa mantém a previsão de iniciar as obras de sua fábrica de motores no Paraná, em conjunto com a Chrysler, que exigirá investimentos de US$ milhões.
A maioria (55%) dos industriais gaúchos ouvidos pela Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul) afirmou que as medidas do pacote fiscal se justificam pela crise nas Bolsas.
A pesquisa, divulgada ontem, constatou que a medida mais dura adotada pelo governo federal foi o aumento das taxas de juros (86% dos entrevistados).
A medida mais positiva, na opinião de 72% dos entrevistados, foi o incentivo às exportações. Em segundo lugar, foi citada a demissão de funcionários públicos (16%).
A maior parte (51%) dos empresários acredita que, a curto prazo, enfrentarão "dificuldade razoável" por causa do pacote. Para 48% dos entrevistados, o crescimento da economia será de 2% no próximo ano.

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