São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Valorização da Bolsa neste ano já perde para caderneta de poupança

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A crise que teve origem na Ásia e se espalhou pelo mundo todo conseguiu um feito inimaginável há alguns meses: investimento em Bolsa no Brasil já perde para a renda fixa no acumulado de 97.
Se esta aplicação for medida pela evolução do Índice Bovespa -termômetro das ações mais negociadas em São Paulo, principalmente de Telebrás-, a rentabilidade neste ano alcança 11,10%.
Até a caderneta de poupança, sem contar os rendimentos mais polpudos deste final de ano, conseguiu finalmente bater a Bolsa com 12,6% líquidos até 6 de novembro, segundo os dados mais recentes do Banco Central.
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que serve de parâmetro para a rentabilidade dos fundos que rendem juros, acumula cerca de 18% brutos, o que resulta em 15,30% após o desconto do Imposto de Renda de 15% sobre o ganho nominal.
Na média dos FIFs (Fundos de Investimento Financeiro) de 60 dias, os mais rentáveis desse mercado -sem levar em conta as perdas na transição para o juro mais alto-, a rentabilidade atingia 17,3% brutos ou 14,7% líquidos até o dia 6.
Os FIFs de 30 dias, obrigados a um compulsório de 5% junto ao BC, sem remuneração, estavam com 15,66% brutos e 13,3% líquidos.
Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) prefixados tinham, em igual período, rendimento médio de 17,65% brutos e 15% líquidos, sem contar os efeitos da CPMF sobre a renovação mensal.
O dólar paralelo continua lanterna, com 2,68% no ano.
Os fundos de ações e de carteira livre, apesar do vendaval que assola as Bolsas desde o final de outubro, apresentavam rentabilidade média de 24,98% e 29,26%, respectivamente, até o dia 6.
A queda, porém, varia da média dos fundos para o Ibovespa e de fundo para fundo porque muda o perfil de cada carteira de ações.
O mais impressionante no comportamento da Bolsa é no início de julho, antes que a crise asiática se alastrasse pelos mercados financeiros de todo o mundo, a alta do Ibovespa chegou até 93,4%.
Hoje, fica ainda mais claro que as quedas registradas neste segundo semestre tem muito a ver com a valorização anterior. Para usar jargão do mercado, os fundamentos da economia e das empresas não justificavam 93,4% em seis meses.
Se havia dúvidas sobre se o desempenho da Bolsa de Nova York apresentava uma "exuberância irracional", como alertou por diversas vezes o presidente do banco central norte-americano, Alan Greenspan, para o mercado brasileiro a frase seria perfeita.
Agora, poucos analistas se arriscam a fazer previsões sobre o mercado acionário. O crash é global e a Bolsa brasileira, com liquidez concentrada em poucos papéis e muito dependente do capital externo que está arredio, tem ônus extra -ainda mais com juros na lua e todo mundo à busca de dinheiro.
Os preços dos papéis, entretanto, caíram tanto que podem, em algum momento, provocar uma reversão no comportamento dos investidores estrangeiros.

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