São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Para especialistas estrangeiros, América Latina também vive risco

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Depois da Tailândia, é a vez da Indonésia, mas as instituições financeiras da América Latina também estão correndo risco, diz o relatório semanal da Standard & Poor's, uma corporação que se dedica exatamente a avaliar a saúde de bancos e instituições financeiras.
O relatório, divulgado em Cingapura, diz que instituições financeiras globais estão pagando igualmente um preço pela crise quase generalizada.
No caso da Tailândia, onde a crise começou em julho, todos os bancos têm avaliação negativa da S&P, pelos créditos de difícil recebimento.
Os bancos da Indonésia são os seguintes em vulnerabilidade, porque os créditos de difícil recebimento "devem aumentar substancialmente a partir de níveis já altos", diz o relatório.
Informado pela Folha do relatório da S&P, Pedro Parente, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, disse não ter "nenhuma inquietação" quanto às instituições financeiras brasileiras.
Estendeu seu comentário também ao setor financeiro da Argentina, sócia do Brasil no Mercosul.
Parente admite que deve haver aumento da inadimplência junto às instituições financeiras, como consequência da duplicação das taxas de juros, na semana passada.
Mas garante: "Os bancos e financeiras podem aguentar, sim, o aumento da inadimplência".
O relatório da Standard & Poor's só tende a aumentar os rumores que começam a custar caro mesmo para países ou áreas de países não citadas nele.
Caso de Hong Kong, em que, na segunda-feira, depositantes formaram intermináveis filas diante das 28 agências do International Bank of Asia, braço local de um conglomerado árabe. O rumor era de que o banco estava para quebrar, o que levou ao que seu vice-presidente, Michael Murad, chamou de "retiradas mais pesadas do que o normal".
Mais do que rumor foi a decisão do banco de investimentos NatWest Markets de fechar sua divisão de dívida global em Hong Kong, dispensando 55 funcionários e redistribuindo o restante entre Cingapura e Tóquio.
O problema é que mesmo Tóquio, capital do país mais rico da Ásia e cujos cidadãos detêm 30% de toda a poupança mundial, começa a ficar sob suspeita.
Kenneth Courtis, economista em Tóquio do banco alemão Deutsche Morgan Grenfell, adverte para o "rápido deslizamento" dos mercados e da economia japonesa para o que chama de "zonas de perigo".
"A economia japonesa deu uma virada para pior", reforça Francis Breden, responsável pelo setor de câmbio da firma Lehman Brothers International.
Até um economista próximo do governo, Taku Yamasaki, chefe do conselho de pesquisas do governista Partido Liberal Democrático, admite que a economia japonesa está entrando em estagnação.
Para fechar o circuito de más notícias provenientes da Ásia, a Coréia, segunda potência regional, também tem a sua moeda, o won, sob forte ataque dos especuladores. O governo se esforça ao máximo para evitar que a cotação do dólar supere a barreira psicológica de mil wons (está perto de 975).
Mas Frank Gong, economista do Bank of America em Hong Kong, prevê: "A menos que o governo abandone seu respaldo ao won, ficará sem reservas externas e será obrigado a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional em no máximo duas semanas".

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