São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Imprensa é a vilã no caso da queda da Bolsa

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

"O pessimismo que certas publicações semearam desde o início da crise é um enorme desserviço à nação", me disse um empresário.
Outro classificou de "alarmismo irresponsável" as manchetes dos últimos dias, que destacaram a gravidade do momento. Disse-me ele: "Ao chamar a atenção para o fato de que o real está entre a vida e a morte na UTI, certos órgãos de imprensa só fazem colaborar para agravar a situação".
Ué? Quer dizer que a marvada da imprensa é a responsável pela queda da Bolsa? Veja você. E a burraldina aqui pensando que a culpa era de um conjunto de fatores que vão do atraso do pacote lançado esta semana, passam pelo jogo de empurrar as reformas com a barriga e aportam na inevitável conclusão de que nenhum dos brilhantes ex-alunos das universidades "Ivy League" que integram a equipe econômica parece ter aprendido chongas com a crise do México.
Ontem o sujeito que faz a manutenção do portão automático da casa de uma minha conhecida cobrou pelo serviço quase três vezes mais do que no mês passado. Quem sabe ele não deu um tapa nos preços depois de ler o jornal?
Ocorre que, contrariamente ao que costuma pensar o populacho, a função da imprensa não é salvar a pátria. Nem é fazer o bem por meio de iniciativas filantrópicas ou, quiçá, praticar exorcismos para livrar os intoxicados do inferno.
O principal compromisso da imprensa é informar. E informar com precisão e seriedade implica assumir certas responsabilidades, como, por exemplo, acordar a mentalidade inflacionária que cochilava dentro do homem que conserta o portão automático.
Claro, tapar o sol com a peneira e se eximir dessa duríssimo tarefa seria bem mais fácil e repousante. Não fosse o fato de que a imprensa vive de credibilidade. E credibilidade é um treco cacete, que leva um tempão para se construir.

Texto Anterior: Aliança não sai e ladrão mata grávida
Próximo Texto: Vamos sair da crise; Desgraça pouca; Ó vida, ó dor!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.