São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Rita Lee lembra sua prisão em 76

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Rita Lee tem autoridade para falar sobre o episódio Planet Hemp. Em 1976, ela viveu sua própria temporada carcerária, sob a acusação de portar maconha. Estava grávida de seu primeiro filho.
Em entrevista à Folha, via e-mail, Rita falou sobre o Planet Hemp, maconha, uso de drogas e a desmobilização -ou não- da classe musical nacional.
*
Folha - Qual é sua posição sobre a prisão do Planet Hemp?
Rita Lee - Com certeza, deve haver algum delegadozinho de plantão querendo mostrar serviço para depois se candidatar nas próximas eleições como El Gran Caçador de Maconheiros. Talvez as famílias brasileiras possam dormir mais tranquilas então...
Folha - Qual é sua opinião sobre a militância que a banda faz?
Rita - O PH tem sua plataforma, pretende a descriminação da Cannabis (adoro esse nome!), que é um atualíssimo tema planetário. Até meu cachorrinho sabe que essa plantinha serve como eficiente remédio no tratamento de glaucoma, Aids, quimioterapia etc. Discutir não ofende. Acho 200 vezes piores as propagandas de uísque soltas por aí.
Folha - Você faz menções à maconha no seu novo disco. Já sofreu algum tipo de pressão por isso?
Rita - Hoje, além de santa, sou uma senhora e exijo respeito. Duvido que venham para cima de mim. Serão recebidos com minha tese PhD sobre o assunto drogas.
Estou totalmente careta há mais de dois anos, mas sou uma das pessoas mais indicadas para maiores esclarecimentos. Nunca fui uma suicida, muito menos sou "madalena arrependida". Não tenho discursos moralistas e hipócritas.
Sei como ninguém passar informações corretas para essa meninada naturalmente curiosa e gostaria de desmascarar as campanhas antidrogas que são um verdadeiro convite ao crime.
Folha - Você considera que faz -ou já fez- apologia às drogas? Como você compara sua experiência à do Planet Hemp?
Rita - Apologia às drogas, nunca fiz. Talvez "convites"... Mas confesso que na época dos Mutantes havia um grande plano de jogar vários LSDs nas caixas d'água de Brasília.
Quando fui presa estávamos em plena ditadura barra pesada. Eu estava grávida e, como boa hippie, não fazia uso de qualquer droga na ocasião. Ou seja, no meu caso a coisa foi "plantada" mesmo.
O final desta novela de agora será mais ou menos o seguinte: o PH vendendo milhões de discos e o tal delegadozinho indo preso em flagrante num antro de prostituição infantil.
Folha - O que você acha do grau de mobilização da classe musical nesse caso?
Rita - Até que enfim há uma mobilização da classe, que é bastante desunida. Geralmente o pessoal do teatro dá de dez na gente em termos de união.

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