São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Calote de bancos asiáticos pode chegar a US$ 500 bilhões em 98

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Os bancos asiáticos, sem contar os japoneses, acumularão, em meados de 1998, o risco de um calote de aproximadamente US$ 500 bilhões, o equivalente a 70% de toda a economia brasileira.
É o total dos chamados créditos de difícil ou impossível recebimento, conforme as contas feitas pelo Peregrine Group, um conglomerado financeiro de Hong Kong.
Esse valor corresponde ao total combinado dos PIBs (Produto Interno Bruto, medida da riqueza de um país) de Malásia, Indonésia e Tailândia.
Só por esse dado, tem-se a dimensão dos efeitos da crise global: de um lado, aponta para uma forte escassez de crédito e, de outro, para uma queda na atividade econômica na Ásia.
Esta, por sua vez, repercutirá fatalmente nas demais regiões do planeta, ainda mais que a Ásia vinha sendo, nos anos 80 e 90, a região de maior crescimento no mundo.
"O que o relatório diz é que as pessoas vão se surpreender com a dimensão da crise asiática", afirmou ao jornal "The International Herald Tribune" Andrew Leeming, chefe de pesquisa do Peregrine.
O grupo, aliás, esteve, durante a semana, no foco de rumores sobre eventual quebra.
Em anúncio divulgado nos jornais locais, para defender-se dos rumores, o grupo, como é óbvio, proclamava sua solidez, mas admitia que o lucro com títulos caíra 58%, no ano encerrado em outubro.
A desaceleração da economia asiática afeta a economia brasileira não apenas pelo efeito contágio da turbulência nos mercados financeiros mas também pelo lado comercial.
A bola coreana
Mas o lado mais dramático da crise é a situação da Coréia, a segunda potência asiática depois do Japão.
O relatório da Peregrine mostra que, embora sejam os bancos chineses os campeões de empréstimos de difícil recuperação, a economia coreana "é o maior problema estrutural na Ásia", como diz Christopher Wood, analista do grupo para mercados emergentes.
O banco central coreano informa que o tamanho do calote em perspectiva, para os bancos do país, é de US$ 51,21 bilhões, equivalentes a 16% de todos os empréstimos.
Mas a Peregrine eleva o risco para 30% do total de créditos, ou US$ 92 bilhões.
Qualquer que seja o número correto, dá uma dimensão das dificuldades coreanas, ainda mais que o país deve US$ 110 bilhões a credores estrangeiros, dois terços dos quais (exatamente US$ 67 bilhões) vencem ao longo dos próximos 12 meses.
Para complicar as coisas, em vez de entrar dinheiro externo, está saindo. Desde a sexta-feira passada, um dia de quedas em todas as bolsas de valores mundiais, cerca de US$ 200 milhões saíram de ações de empresas coreanas para o dólar.
Ainda que a crise fique contida nos limites atuais, já provocou fortes reduções nas expectativas de crescimento das duas maiores economias asiáticas.
No Japão, antes mesmo da crise se agravar, o governo já havia anunciado que o PIB do país retrocedera 2,9% no segundo trimestre do ano.
Na Coréia, a previsão é a de que o crescimento em 1997 será de 5,5%, espetacular na comparação com a Europa e os Estados Unidos, mas apenas a metade do ritmo desta década, sempre próximo ou superior a 10%.

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