São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Câmara vai pedir exumação do corpo

ROGÉRIO GENTILE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados vai exigir a exumação e a necropsia do corpo do sem-terra Eliseu Oliveira da Silva, encontrado morto em cela da delegacia de polícia de Apuí, sul do Amazonas.
Com base em laudos feitos pela perícia local, o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Klinger Costa, diz que o sem-terra, um dos líderes do MST na região, enforcou-se com um cordão.
Costa afirmou que Silva era fugitivo de um presídio de Porto Velho (RO), condenado por duplo homicídio. "Alguns familiares contaram que ele tinha dito que se mataria, se fosse preso novamente", disse.
A comissão, porém, não descarta a hipótese de que elea tenha sido assassinado pela polícia local.
Segundo relatos de outros sem-terra da região, Silva era a única testemunha de um atentado ao técnico agrícola Ivanir Queiroz.
A advogada Sueli Bellato, da Comissão de Direitos Humanos, diz que considera fundamental "a realização de novos exames em instituições idôneas".
Segundo ela, a comissão poderá exigir a realização da perícia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, disse ontem que o movimento ainda não tinha informações suficientes sobre o episódio. Ele exige uma investigação aprofundada dos fatos.
A direção nacional do MST encontrou dificuldades para conversar ontem com as lideranças locais do movimento. Os principais membros do MST em Apuí estariam escondidos com medo da policia e de latifundiários.
A cidade de Apuí tem cerca de 11 mil habitantes e apenas um hospital (com cinco médicos).
Lá vigora o maior projeto de assentamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em uma área de 689 mil hectares (maior do que todo o Distrito Federal).
Violência
Na próxima segunda-feira, deputados da região Norte que integram a comissão deverão ir até a cidade de Apuí. A comissão pretende investigar também o motivo de o sem-terra ter sido preso.
"Há informações, ainda não comprovadas, de que ele já teria cumprido a sua pena. Se isso for verdade, ele não poderia ter sido preso", afirmou a advogada.
A comissão foi alertada pela regional Amazonas da CPT (Comissão Pastoral da Terra). No documento, a CPT diz que, segundo familiares do sem-terra, o corpo teria marcas visíveis de violência.
O secretário Nacional dos Direitos Humanos, José Gregori, enviou ofícios ao governo do Estado, exigindo providências e "isenção" na apuração do fato.
Klinger Costa, secretário de Segurança do Amazonas, disse que mandou um capitão da Polícia Militar do Estado (que ele soube identificar apenas como "capitão Itamar") para o local.

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