São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Antidepressivo é nova arma contra fumo

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A batalha contra o fumo pode ter ganhado um aliado de peso. Um estudo publicado no "New England Journal of Medicine" aponta que o uso do antidepressivo bupropiona por sete semanas dobra a chance de sucesso para quem quer abandonar o cigarro.
A bupropiona -que ainda não existe no Brasil- age sobre uma substância química do cérebro conhecida como dopamina. É a mesma substância liberada quando as pessoas fumam e que leva a uma sensação de prazer e bem-estar.
Os especialistas acreditam que parar de fumar seja tão difícil justamente pela ação que a nicotina (um dos principais componentes do cigarro) exerce sobre a dopamina -que acaba levando a um comportamento de vício.
Hoje, a nicotina é vista como uma droga que provoca dependência e que condiciona uma síndrome de abstinência quando a pessoa interrompe seu uso. A abstinência provoca sintomas como irritação, ansiedade, taquicardia, dores pelo corpo etc.
A idéia de testar antidepressivos em quem quer abandonar o cigarro veio da constatação de que fumantes têm duas vezes mais chance de ter um quadro de depressão do que os não-fumantes.
Além da terapia de reposição com a própria nicotina (em adesivos e chicletes, por exemplo), nenhuma outra substância até hoje tinha se mostrado tão eficiente.
O estudo com a bupropiona durou um ano e avaliou 615 pessoas -divididas em quatro grupos. O primeiro recebeu placebo (substância sem atividade química) e os outros receberam respectivamente 100 mg, 150 mg e 300 mg de bupropiona. O trabalho usou uma pílula de liberação lenta de bupropiona que foi recentemente aprovada pela FDA (órgão que controla medicamentos e alimentos nos EUA) para quem quer deixar de fumar. A medicação deve ser iniciada uma semana antes da data marcada pela pessoa para interromper o uso do cigarro.
Após sete semanas, 19% do grupo placebo havia parado. Os grupos com bupropiona (100 mg, 150 mg e 300 mg) que pararam de fumar chegaram a 28,8%, 38,6% e 44,2%. Em um ano, só 12,4% dos pacientes com placebo estavam sem os cigarros contra 19,6%, 22,9% e 23,1% dos grupos com o antidepressivo. Não houve ganho de peso nem efeitos colaterais significativos.
Montezuma Pimenta Ferreira, supervisor e responsável pelo Laboratório de Tabagismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, diz que o trabalho é o primeiro estudo controlado que aponta resultados favoráveis com o uso de uma substância química diferente da nicotina.

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