São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Medidas espantam fragilidade, diz Parente

VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente, disse que o principal objetivo do pacote de medidas econômicas anunciado pelo governo na semana passada foi evitar que se consolidasse entre os investidores externos a impressão de que o Brasil era mais frágil que outros países emergentes.
"Em uma situação como essa e na rapidez com que a coisa vinha se consolidando, não adiantava muito questionar se essa percepção era justa ou não", afirmou Parente em entrevista à Folha, na última sexta-feira. Segundo ele, o governo conseguiu mudar a visão dos investidores estrangeiros.
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Folha - O pacote fiscal teve um impacto negativo no Congresso Nacional. Que avaliação o sr. faz disso?
Pedro Parente - A divulgação das medidas não decorreu de um capricho. O governo constatou que se formava muito rapidamente nos mercados internacionais a visão de que o Brasil tinha mais fragilidades adicionais que outros países emergentes.
Em uma situação como essa, não adiantava muito questionar se a percepção era justa ou não. Tínhamos que agir rápido. Se a idéia se consolidasse poderia haver pressões muito acentuadas sobre a moeda nacional e sobre nossa estabilidade.
A necessidade das medidas já estava evidenciada desde que o Banco Central elevou a taxa de juros. Tinha de ser um conjunto de medidas suficiente para melhorar o resultado nas áreas fiscal e externa.
Folha - Foi essa urgência que impediu as negociações das medidas com os líderes dos partidos que apóiam o governo no Congresso?
Parente - As medidas foram definidas somente na tarde do último domingo. Uma vez encerrada a reunião no Palácio da Alvorada, o presidente da República teve o cuidado de telefonar para algumas pessoas. No dia seguinte foi marcado um café da manhã na casa do vice-presidente, Marco Maciel.
Sem dúvida nenhuma, nós não tivemos as condições ideais para uma preparação, negociação e divulgação dessas medidas.
Folha - Como o sr. vê as críticas em relação ao aumento do Imposto de Renda da Pessoa Física e em especial as críticas do senador Antonio Carlos Magalhães, presidente do Senado...?
Parente - Eu acho as críticas absolutamente normais e fazem parte da democracia. O presidente Antonio Carlos Magalhães não está contra as medidas.
Com a mesma independência que o Poder Executivo teve para propor essas medidas, o Congresso Nacional terá para votá-las.
O Congresso Nacional é soberano e tenho certeza de que ele vai levar em conta a gravidade do momento, o que não significa aprovar integralmente o que o Executivo propôs.
O governo está pronto para discutir alternativas que sejam melhores do que aquelas que apresentamos, e até o momento não apareceu nenhuma.
Folha - As medidas anunciadas já estão tendo efeito negativo sobre o nível de atividade da economia. As empresas estão dando férias coletivas e reduzindo produção. O governo esperava isso?
Parente - Em primeiro lugar, você não produz um conjunto de natureza fiscal que possa ser expansionista. A natureza das medidas é contracionista.
Ou você está aumentando receita do setor público e portanto retirando recursos do setor privado ou você está reduzindo gastos do setor público e sua demanda junto à economia.
Não dá para preparar um conjunto de medidas fiscais sem esse tipo de impacto.
Em segundo lugar, o importante não é avaliar esse conjunto de medidas em relação à situação anterior, mas em relação à situação que poderia ser caso essas medidas não tivessem sido adotadas.
A nossa percepção é que haveria possibilidade de uma recessão muito maior.
Enfrentar a situação com rapidez significou com muita certeza minimizar os problemas para a economia brasileira.

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