São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Dólar 'ideal' valeria de R$ 1,24 a R$ 1,66

Vários índices podem medir qual seria a defasagem

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Na busca de culpados pela crise atual, economistas, políticos e empresários vêm apontando para a tão e mal falada defasagem cambial. O dólar estaria muito barato, e o real, valorizado demais, prejudicando as contas externas do país.
Parece haver certo consenso sobre isso. Até mesmo a equipe econômica do governo, de forma acanhada, reconhece que há algo de errado com o câmbio. Mas, afinal, quanto deveria valer hoje o dólar em relação ao real?
As cotações "ideais" são as mais variadas. Dependem do parâmetro utilizado para medir a polêmica defasagem cambial.
Se o indexador adotado fosse índice de preços ao consumidor, o dólar deveria estar hoje por volta de R$ 1,66 (ver quadro ao lado). É de uns 66% a variação do IPC da Fipe desde o início do Real. Em junho de 94 a paridade era R$ 1,00 por US$ 1,00.
Há quem defenda esse parâmetro como o correto para medir a desvalorização a ser repassada ao câmbio. Índices mais restritos, como os de preços no atacado, teriam o defeito de serem influenciados pela própria defasagem cambial. É o caso do preço do petróleo.
A maior crítica à utilização de preços ao consumidor para medir o atraso cambial é que esses índices incluem, por exemplo, aluguel residencial e até a conta cobrada por um corte de cabelo. O que tem isso a ver com o custo de pia sanitária exportada para a Espanha? Ou com o do suco de laranja para o Japão?
No outro extremo dos preços ao consumidor final, o dólar precisaria estar em R$ 1,24, na hipótese de correção pelo IPA industrial (preços no atacado de bens da indústria) da Fundação Getúlio Vargas. De julho de 94 a setembro de 97 esse índice variou 23,86%.
Entre IPC e IPA industrial, o termômetro do IGP-DI (Índice Geral de Preços, Disponibilidade Interna) apontaria para um dólar custando R$ 1,55, e o IPA geral, R$ 1,41.
A Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior) elabora índice de taxa de câmbio real em relação não só ao dólar, como também ao iene, moedas latino-americanas, européias e uma cesta de 13 moedas de parceiros comerciais.
Em setembro, pelas contas da Funcex, o real estava defasado 17,1% em relação ao dólar no início do Real. Para voltar à média de 1991/92 a defasagem chegava a 22,7%. Por essa medida, já havia atraso na véspera do Real.
A defasagem pós-Real diante de moedas européias aumentava para 22,7%, e do iene, 32,2%, devido à valorização da moeda norte-americana naqueles mercados.
Como o real está atrelado ao dólar, as exportações brasileiras ficam mais caras -e teoricamente perdem mercado- sempre que a moeda dos EUA se fortalece diante do iene ou do marco alemão.
Arredondando, o dólar está em R$ 1,11. O governo prefere manter a política de desvalorizações graduais pouco acima da inflação interna, dentro da minibanda, e esta, dentro da banda larga. A defasagem seria eliminada aos poucos.
Palpites e hipóteses sobre o atraso cambial não faltam. Avaliar os efeitos de mídi ou máxi neste momento é fácil. Seriam explosivos.
Difícil é responder: com o dólar hoje em R$ 1,40 ou R$ 1,60, mesmo gradualmente, a inflação brasileira teria descido ao patamar atual de 5% ao ano? Não há contradição em aplaudir a estabilidade e atacar a âncora cambial -fora os excessos do início do plano?

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