São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Estado pagou US$ 60 bilhões

IMRE KARACS
DO "THE INDEPENDENT"

Seria injusto sugerir que todas as empresas alemãs fugiram de sua responsabilidade em relação aos seus ex-funcionários. Na década de 50, um grupo de empresas buscou conseguir acesso ao mercado mundial fazendo um gesto de reparação.
IG Farben, Krupp, AEG, Siemens e Rheinmet se juntaram e fizeram um pagamento único de US$ 45 milhões à Conferência de Reivindicações Judaicas. A Nobel e a Mercedes-Benz contribuíram 30 anos mais tarde. Como resultado de sua generosidade, cerca de 15 mil sobreviventes receberam até US$ 3.000.
Apesar disso, os sobreviventes vivem voltando, pedindo mais. Todos os anos a reunião de acionistas da IG Farben, gigante do setor químico da era nazista, é ritualmente tumultuada por ex-escravos.
A empresa, que produzia as pastilhas de cianureto usadas nas câmaras de gás de Auschwitz, hoje não passa de um resquício, que se mantém em pé apenas para dar continuidade a suas próprias reivindicações legais na ex-Alemanha Oriental.
Depois da guerra, a IG Farben foi subdividida em Basf, Hoechst e Bayer, que hoje estão entre as maiores empresas químicas do mundo. Elas tampouco se dispõem a pagar os escravos.
E por que deveriam fazê-lo? O Estado alemão já pagou US$ 60 bilhões de compensação aos sobreviventes do Holocausto, embora nada disso tenha sido dirigido especificamente aos trabalhadores escravos.
Era preciso traçar um limite, e é aqui que a Alemanha o está fazendo. Segundo a imprensa alemã, o governo de Bonn vem exortando as grandes empresas a não pagar.
"Os escravos constituem o maior grupo de sobreviventes", disse Lothar Evers, diretor do Centro de Informação e Aconselhamento de Vítimas do Nazismo. Evers estima em até 100 mil o possível número de ex-escravos ainda vivos que não receberam nenhuma compensação. Para ele, a conta total chegaria à casa dos bilhões. É isso que assusta o governo alemão.
A compensação de US$ 8,8 mil conquistada por Rywka Merin este mês pode abrir as portas para outros processos semelhantes, gerando muita publicidade negativa para as empresas.
Os partidos Social Democrata e Verde propuseram a criação de um fundo para ajudar os ex-escravos, financiado pelas empresas envolvidas. Talvez, daqui a pouco, o presidente da Volkswagen pode ser obrigado a abrir o bolso, a contragosto.
(IK)

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