São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
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OAB quer que PF apure morte em Apuí

ALTINO MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM APUÍ (AM)

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Amazonas, Alberto Simonetti, 50, solicitará hoje à Procuradoria da República que a Polícia Federal investigue a morte do sem-terra Elizeu Oliveira da Silva, 28, encontrado enforcado na última quarta na delegacia de Apuí (AM).
Simonetti quer ainda que legistas da Unicamp (Universidade de Campinas) auxiliem a PF a apurar a suspeita de que o agricultor foi torturado antes de morrer.
Ele vai sugerir hoje ao procurador-geral de Justiça do Amazonas, Evandro Farias, que substitua o promotor Marcelo Pinto Ribeiro, que tem atuado no caso.
"É muito estranho que o promotor figure como testemunha de um laudo tão questionado", afirmou o presidente da OAB-AM.
A decisão que impediu o traslado do corpo do agricultor para necropsia no IML (Instituto Médico Legal) de Manaus foi compartilhada pelo juiz Joaquim Almeida de Souza, pelo promotor Ribeiro, pelo delegado Lércio de Souza Rodrigues e pelos médicos Sidrônio Timóteo e Silva e Carlos Alencar.
O STRA (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apuí) e os parentes da vítima recorreram à CPT (Comissão Pastoral da Terra) do Amazonas para que o corpo do agricultor fosse examinado no IML de Manaus. Segundo eles, havia sinais de tortura no corpo de Silva.
O promotor, o delegado e os médicos assinaram um auto de exame cadavérico da Secretaria da Segurança do Amazonas no qual atestam que o agricultor morreu por "asfixia mecânica", produzida por um "cordão resistente".
A versão de suicídio por enforcamento tem sido contestada desde que foi anunciada. A corda com a qual o agricultor supostamente se matou é um cordão trançado de náilon usado em chaveiros.
O coordenador da CPT, Adílson Vieira, chegou a fretar um avião, mas as autoridades de Apuí impediram o traslado do corpo.
"Tomamos essa decisão porque temíamos que alguém provocasse fraturas no cadáver para depois reclamar de tortura", disse Timóteo.
"O único sinal de violência que havia no corpo era a marca no pescoço, de forma circular, sugerindo as características de enforcamento", afirmou o médico Alencar.
O juiz e o promotor, que pertencem à comarca de Novo Aripuanã, saíram de Apuí anteontem, antes da chegada à cidade dos representantes da CPT, do CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos) e da Assembléia do Amazonas.
A reportagem da Agência Folha telefonou diversas vezes para as casas do juiz e do promotor, em Novo Aripuanã, mas ninguém atendeu a ligação.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apuí, Antônio Florêncio da Costa, o Paulista, entregou à comissão uma nota na qual denuncia a existência de um "complô das autoridades locais para abafar o caso". A nota, também assinada por integrantes do PC do B municipal, assinala que amigos e parentes de Silva teriam constatado fraturas na cabeça, braços e pernas do agricultor.

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