São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Castro teve lesão cerebral, diz hospital

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O professor Leonardo Teodoro de Castro, principal suspeito, segundo a polícia, de ter provocado a explosão no Fokker-100 da TAM no último dia 9 de julho, sofreu uma lesão no cérebro e não tem, hoje, condições de ser interrogado, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.
Castro foi atropelado por um ônibus em 12 de julho, três dias após a explosão, e esteve internado em terapia intensiva até 20 de outubro. No dia da explosão, o professor era um dos passageiros a bordo da aeronave.
Segundo relatório médico do hospital São Paulo obtido pela Folha, Castro tem "características de sequela pós-traumática" nos tecidos do lado superior esquerdo do cérebro. A lesão, segundo o relatório, causou "comprometimento global" de algumas funções do cérebro, entre elas a memória.
O documento aponta ainda que Castro está em condições de deixar o hospital. "Não há mais necessidade de internação hospitalar."
A Folha apresentou o relatório a três médicos. Todos disseram ser necessário analisar o paciente pessoalmente para avaliar, com certeza, o estado de saúde e o tempo de recuperação. Mas concordaram em comentar o relatório.
"Corre-se seriamente o risco de não ter como ouvi-lo (sua versão dos fatos) nunca", disse ontem o médico Luís Altenfelder Silva, do Departamento de Psiquiatria da APM (Associação Paulista de Medicina).
Segundo Altenfelder, "pelo relatório do hospital, houve comprometimento grave. Normalmente, esse tipo de lesão é definitiva".
Para Ibsen Thadeo Damiani, do Departamento de Neurologia da APM, o estado de saúde de Castro, descrito no relatório, "compromete as respostas que ele possa dar em um depoimento".
Segundo Damiani, Castro pode nunca se lembrar do que aconteceu. "A chance é grande, ainda mais pelo local que foi afetado."
Saulo Castel, 35, também da psiquiatria da APM, diz que, apesar de haver "alteração funcional" no cérebro do paciente, há possibilidade de recuperação, em alguns casos até completa.
"A primeira coisa a se fazer é submeter o paciente a uma perícia psiquiátrica ou psicológica", disse. Castel concorda, porém, que Castro não tem condições hoje de prestar depoimento, por estar com a memória afetada.
José Osmar Medina Pestana, diretor clínico do hospital São Paulo, não quis comentar o relatório.
Segundo o advogado criminalista José Beraldo, para efeito jurídico, a perícia sobre a saúde mental do paciente deve ser determinada pelo juiz que analisar o caso, e seria feita por um perito da confiança do magistrado. A família pode contratar uma segunda perícia.

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