São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Mês poderá ter saída de até US$ 3 bi

LUIZ CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os números relativos ao fluxo de dólar para a economia brasileira, o principal parâmetro neste momento para a confiança na saúde do real, vão contra o relativo otimismo que desde a sexta-feira tomou conta dos investidores locais. Até ontem deixaram o país US$ 1,896 bilhão, projetando US$ 3 bilhões de saída em novembro.
As saídas do segmento comercial superaram as entradas em US$ 63 milhões, já computado o saldo de ontem, quando o resultado foi negativo em US$ 178 milhões, segundo um banco estrangeiro.
O dólar comercial é usado para operações de comércio exterior (exportação e importação) e também para as operações de investidores estrangeiros nas Bolsas.
Já o flutuante apresenta uma saída líquida de dólar (já computadas as entradas) de US$ 1,833 bilhão. Nesse caso, a informação leva em conta o resultado acumulado até a terça-feira. Para ontem a estimativa de bancos e corretoras era de nova saída.
Esses números, acompanhados diariamente tanto pelos investidores brasileiros como também pelos estrangeiros, não foram suficientes para evitar a queda das cotações do dólar nos mercados futuros. Somente ontem a moeda norte-americana para entrega no início de janeiro caiu 0,25%.
O fluxo cambial representa um termômetro da análise que os investidores estrangeiros fazem da economia brasileira.
Quando ocorre uma saída de dólares, o que ocorreu com intensidade no mês passado, reduzindo as reservas internacionais do país, significa que muitos investidores estão perdendo a confiança no país e preferem levar seus recursos para outros mercados. Em outubro, essa reação representou uma fuga de US$ 5 bilhões.
Juros
Foi justamente para conter esse movimento que o governo detonou uma série de medidas, começando pelo aumento da taxa de juros, que passou de 21% para 43% ao ano. Com isso, o governo aumenta o lucro dos investidores, aumentando também a possibilidade desses recursos ficarem no país. Essa alta dos juros até agora tem se mostrado insuficiente para inverter o fluxo cambial.
O presidente do BC, Gustavo Franco, afirmou inclusive que o governo cogitou abrir ainda mais o mercado nacional para o chamado "hot money", o capital especulativo de curto prazo que vem para o país atrás de ganho rápido.
Em conferência com investidores internacionais, Franco afirmou que, por algum tempo, atrair esse tipo de capital foi uma das hipóteses levadas em conta.
E em boa medida isso foi feito, quando o governo decidiu reduzir o prazo para a renovação dos eurobônus (títulos emitidos por empresas e bancos brasileiros no exterior) de três anos para seis meses.
O que poderia tornar ainda mais atraente o mercado brasileiro seria a redução do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que incide sobre as aplicações de investidores estrangeiros ou mesmo o fim da incidência desse tributo, segundo avaliam alguns bancos e corretoras.
O problema aí é que uma medida dessa natureza poderia ser vista pelos especuladores de plantão como um sinal de fraqueza do governo brasileiro, ou, em bom português, desespero de causa.

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