São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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QUERO A LEI MARADONA

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

As comparações com Pelé começaram em fevereiro de 1977, quando Diego Maradona foi convocado pela primeira vez para defender a seleção principal da Argentina.
Duas décadas depois, ainda se discute muito, principalmente na Argentina, qual dos dois foi o melhor. As comparações não deixaram de criar uma rivalidade entre os dois.
Apesar disso, é justamente em Pelé que Maradona tenta se espelhar fora do campo, depois de ter anunciado, pela oitava vez, que abandonaria o futebol.
Ainda indeciso sobre que rumo seguir daqui para a frente, Maradona não esconde que pensa em desenvolver projetos para modificar a administração do esporte na Argentina, assim como Pelé está fazendo no Brasil, como ministro dos Esportes.
Em entrevista à Folha, Maradona falou da dificuldade que está tendo de largar o futebol e da necessidade que sente de continuar, direta ou indiretamente, ligado ao esporte.
Comentou ainda sobre as chances de Brasil e Argentina na próxima Copa do Mundo e o sucesso que o atacante Ronaldinho vem conseguindo no futebol mundial.
*
Folha - Em 30 de outubro, quando completou 37 anos, você anunciou que estaria se retirando do futebol. O que você pensa em fazer fora dos gramados?
Maradona - Fui obrigado a tomar aquela decisão, por causa da pressão que eu e minha família estávamos sofrendo, a boataria sobre antidoping, contraprova, aquela coisa toda...
Só agora estou tendo algum tempo para pensar.
Folha - Mas já chegou a cogitar alguma coisa? Já recebeu algumas propostas?
Maradona - Tenho recebido muitos convites, sim, um atrás do outro, desde clubes que me querem como jogador, até clubes que me querem como técnico...
Folha - Clubes da Argentina ou do exterior?
Maradona - Dos dois. Da Argentina, propostas para ser diretor técnico. Do exterior, para jogar.
Folha - E o que lhe atrai mais?
Maradona - Tudo, contanto que tenha ligação com o futebol. Não quero viver longe do esporte. É como o caso do Pelé, que parou de jogar faz tempo, mas que tem empresa de marketing esportivo, trabalha como ministro dos Esportes, continua ligado na coisa...
Folha - Você pensa em fazer algo parecido?
Maradona - Bom, já fui empresário de jogador... E sonho em ajudar os jogadores em início de carreira, pois no mundo do futebol não faltam aproveitadores, a carreira é curta e sacrificada.
Essa foi uma das coisas que tinha em mente quando assumi a presidência de um sindicato mundial de jogadores de futebol: ajudar meus companheiros, os casos mais complicados. Só que antes não tinha tempo.
Folha - No Brasil, Pelé, como ministro, está tentando aprovar uma lei que, entre outras coisas, extingue o passe. Você tem conhecimento do projeto? Está de acordo?
Maradona - Conheço só em linhas gerais, mas aprovo tudo o que for favorável aos jogadores. É uma luta importante, como foi a do caso Bosman.
Folha - Se você fosse ministro dos Esportes da Argentina, que projetos apresentaria?
Maradona - Não sei que cargo poderia ocupar, como poderia ajudar, mas faria coisas para o bem dos jogadores.
O êxodo de atletas para o exterior, por exemplo. Poderia ser criado um fundo, com uma parte do dinheiro que os clubes recebem com a venda dos jogadores, para ajudar os que estão começando, os que estão machucados, os que se aposentam sem dinheiro... Coisas assim.
Folha - Por falar no êxodo dos esportistas latinos, quais são as chances do futebol sul-americano, que tem boa parte de seus melhores jogadores atuando na Europa, na Copa da França?
Maradona - São boas, Argentina e Brasil estão sempre entre os favoritos. Se por um lado o êxodo prejudica, por outro dá mais experiência internacional, o que é importante numa Copa do Mundo.
Folha - O que você acha da ascensão do Ronaldinho? Qual sua opinião sobre ele?
Maradona - É um grande jogador, um grande talento.
Na França, acho que ele pode explodir, marcar um gol atrás do outro. Sem dúvida, será uma das grandes atrações no ano que vem.
Folha - Para completar, a qualidade de vários jogos da Copa dos Estados Unidos, em 1994, foi muito questionada por alguns críticos de futebol.
Você está de acordo com eles? E o que acha do nivelamento das equipes, como vimos na Eurocopa do ano passado? É uma tendência do futebol moderno que vai se repetir na França ou você espera uma Copa diferente?
Maradona - A diferença foi que, nos Estados Unidos, os jogos aconteciam ao meio-dia, um calor insuportável... Claro que a qualidade dos jogos não seria a mesma.
Até disse, na ocasião, que só não discuti com a Fifa porque estava cansado de discussões. Agora, na França, as coisas serão diferentes.

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