São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Europa adota emprego como prioridade

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LUXEMBURGO

A agenda européia mudou de uma vez: do topo das prioridades, cai a moeda única, entra o desemprego.
Esse é o melhor resumo para a Cúpula Social, o debate sobre o desemprego que os 15 países da UE (União Européia) fazem hoje e amanhã em Luxemburgo.
Em parte, a mudança de agenda se deve ao fato de que a moeda única já é dada consensualmente como fato consumado.
Entra em vigor a partir de janeiro de 1999, com 11 dos 12 países que queriam aderir (a exceção é a Grécia) e sem os três que ficam voluntariamente de fora (Reino Unido, Suécia e Dinamarca).
Mesmo assim, é uma tarefa ciclópica que só mesmo as urgências sociais poderiam derrubar do alto da agenda européia.
Não por acaso, o desemprego passou a ser equiparado à moeda única no debate público europeu.
"É preciso imprimir à criação de emprego a mesma paixão que se aplicou para criar o euro (a moeda única)", diz, por exemplo, Martine Aubry, ministra francesa do Emprego e da Solidariedade.
Reforça seu colega social-democrata alemão Oskar Lafontaine, líder da oposição: "Os critérios para a criação de emprego deveriam ter status similar, se não superior, aos critérios para se chegar à moeda única".
Metas setoriais
A Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado, bem que tentou traçar para o emprego um esquema semelhante ao adotado para a moeda única.
Para entrar na primeira leva do euro, os países europeus têm de cumprir requisitos como déficit fiscal, dívida pública e inflação baixos.
A comissão propôs mecanismo similar: um conjunto de 19 medidas que, segundo ela, criariam 12 milhões de empregos em cinco anos e, por extensão, reduziriam o desemprego dos atuais quase 11% para 7%.
A idéia não passou pelo crivo em especial do governo alemão.
Não há metas globais, mas setoriais.
Parece pouco, mas não deixa de ser um avanço político e mesmo técnico.
No âmbito político, "seus objetivos supõem um progresso formidável, quando há um ano o que estava na moda era propor o desmantelamento da proteção social européia", como diz Martine Aubry.
No técnico, o pacote (ver quadro ao lado) ataca exatamente os pontos negros do desemprego europeu. Não se trata de um fenômeno generalizado, conforme análise de Martin Wolf, especialista do jornal britânico "Financial Times", voltado para economia.
Os homens entre 25 e 54 anos, ou seja, os que em tese estão no auge da capacidade produtiva, estão praticamente no mesmo nível de emprego de seus similares norte-americanos, que gozam situação próxima do pleno emprego (88% nos EUA, 85% na UE).
País incômodo
O problema se dá em três segmentos: jovens (trabalhadores de até 25 anos), os mais idosos (acima de 55 anos) e mulheres em qualquer faixa etária.
Mesmo assim, é um problema sério o suficiente para ganhar o topo da agenda européia.
Afinal, os quase 18 milhões de europeus sem emprego, se vivessem todos no mesmo país, comporiam o que seria a sexta maior nação da União Européia, como contabiliza Fritz Verzetnitsch, líder da CES (Confederação Européia de Sindicatos).
Completa com uma advertência: "Não se deve frustrar as esperanças dessa nação".
É esse país fictício, mas incômodo, que os líderes europeus estarão debatendo hoje e amanhã em Luxemburgo.

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