São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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"Isso sim que é tortura", afirma o ex-secretário

DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 73 anos, o deputado estadual Erasmo Dias (PPB) esteve pela primeira vez no pele do que ele chama de "cidadão-vítima".
Sob a mira de revólver e de pistola, disse que não pôde reagir. "O herói burro nasceu morto."
Dias afirmou que foi vítima de um terror praticado por homens que, após dominá-lo, vestiram meias de seda na cabeça como se fossem "terroristas árabes". "Isso sim que é tortura", disse. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista.
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Folha - Como começou o roubo?
Erasmo Dias - Eu estava saindo do apartamento da minha amiga. O elevador chegou e dele saíram dois homens pardos com cerca de 20 anos. Eles estavam bem vestidos. Um deles pegou minha arma.
Folha - Por que o senhor não reagiu?
Dias - Porque eu não estava sozinho. Estava ao lado de minha amiga e das filhas dela. Eles eram dois, me pegaram desprevenido e eu estava só. Se estivesse pau a pau, eu saberia o que fazer. O herói burro nasceu morto.
Folha - Como os ladrões se portaram, eles eram amadores?
Dias - Eles não eram amadores. Depois de entrarem no apartamento, vestiram meias de seda na cabeça como se fossem terroristas árabes. A toda hora, um deles dizia que ia estuprar as filhas da minha amiga caso não encontrassem as jóias e os dólares. Esses canalhas criaram um clima de terror durante 40 minutos ameaçando matar e violentar. Isso sim que é tortura.
Folha - Eles reconheceram o senhor?
Dias - Quando um deles estava revistando minha capanga, a minha identidade militar caiu no chão. Antes que ele a apanhasse e visse que eu sou coronel do Exército, disse que aquela era a minha carteira de coronel do Exército, que eu era deputado e que já havia sido secretário.
O ladrão tem um brio que a vítima não pode ferir. É melhor não omitir nem mentir para não irritá-lo. Tentei, dessa forma, manter os dois assaltantes calmos.
Folha - Mesmo armado, o senhor não pôde reagir ao assalto e teve o revólver levado pelos ladrões. O senhor continuará a andar armado?
Dias - Eu já estou pronto de novo. Tenho metralhadora, fuzil AR-15 e escopeta em casa. Está tudo registrado no Exército. Usava o revólver 38 quando saía e não ia muito longe. Hoje eu estou com uma pistola calibre 9 mm.
Folha - O senhor já havia sido vítima de um roubo?
Dias - Nunca. Sempre vi os outros como vítimas. Essa foi a primeira vez em que eu estive na condição de cidadão-vítima. Hoje em dia é assim, não importa se você é deputado, ex-secretário e coronel. Todos podem ser vítima.
Folha - O senhor vai acompanhar as investigações da polícia?
Dias - Não. Eu vou deixar a polícia fazer o seu trabalho. A única coisa que eu pedi ao delegado é que ele me chame caso prenda algum suspeito. Eu posso reconhecer esses canalhas e quero olhar bem para essas pessoas.

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