São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Mafiosos sofrem influência do filme

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vida e arte se misturam o tempo todo em "O Poderoso Chefão", de acordo com "The Godfather Book", de Peter Cowie.
Um exemplo entre muitos: a exuberante festa de casamento de Connie Corleone, na abertura do primeiro "Chefão", inspirou-se no casamento do mafioso Joseph Valachi, em 1932.
Inversamente, no final dos anos 70, um chefão da Máfia fez uma festa numa "villa" siciliana para o casamento de sua filha e ordenou à orquestra que tocasse o tema musical do filme, de Nino Rota.
A propósito: o vilarejo siciliano Corleone existe, mas não é ele que aparece no filme. As cenas ambientadas em Corleone foram rodadas em aldeias próximas a Taormina, sobretudo Forza d'Agro.
O livro mostra também as conexões entre a trama do "Chefão 3" e a história real do escândalo do Banco do Vaticano e da suspeita morte do papa João Paulo 1º.
O filme mudou a vida de muita gente, sobretudo de Coppola. Ironicamente, ele só foi contratado para dirigi-lo depois que o projeto foi recusado por diretores mais prestigiados à época, como Elia Kazan, Otto Preminger, Richard Brooks e Fred Zinnemann.
Curioso foi o argumento do produtor Bob Evans, da Paramount, para dar uma chance ao jovem Coppola, neto de napolitanos: "Os filmes sobre a Máfia em geral não dão certo porque são escritos por judeus, dirigidos por judeus e estrelados por judeus".
Família Coppola
O próprio Coppola, no início, via "O Poderoso Chefão" apenas como um trabalho comercial que lhe daria dinheiro para tocar seus projetos "autorais". Mas acabou assumindo de corpo e alma a saga dos Corleone.
Transformou a equipe básica do filme -o fotógrafo Gordon Willis, o diretor de arte Dean Tavoularis, os atores- numa grande família, da qual ele era o "godfather".
Quando Winona Ryder ficou doente e não pôde interpretar Mary Corleone, no "Chefão 3", Coppola não hesitou em escalar sua filha Sofia para o papel, enfrentando as pressões do estúdio e o sarcasmo da imprensa.
Sofia tinha praticamente nascido no set do "Chefão": ela é o bebê de Connie batizado no primeiro filme. Cowie transcreve a troca de correspondência entre Coppola e os executivos da Paramount, em que o cineasta defende a escalação da filha tentando usar argumentos profissionais e artísticos.
Até a neta do diretor, Gia, irrompeu um dia no set onde se rodava o "Chefão 3". Agarrou-se ao vestido da tia, Sofia Coppola, que dançava com Al Pacino (Michael Corleone). O cineasta continuou rodando a cena e manteve-a no filme.
Outra passagem comovente do livro é a que trata do uso que Coppola faz no filme de um desenho infantil de seu filho Gio.
O desenho é dado pelo pequeno Anthony a seu pai Michael Corleone, no "Chefão 2" (1974). No "Chefão 3" (1990), Michael mostra de volta ao filho, agora adulto, o mesmo desenho, que guardou esse tempo todo. Gio Coppola, para quem não sabe, morreu em 1986, num acidente de lancha.
(JGC)

Livro: The Godfather Book
Autor: Peter Cowie
Lançamento: Faber & Faber (Londres)
Preço: 14,99 libras (257 páginas). Pode ser encomendado à livraria Cultura (tel. 011/285-4033) ou, pela Internet, à Amazon Books (www.amazon.com)

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