São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Puzo diz que criou "godfather"

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando Mario Puzo, 77, publicou seu terceiro romance, "The Godfather", em 1968, ganhou US$ 6.500 de adiantamento de direitos autorais e foi passear na Europa com a mulher e os filhos.
Viciado em jogo, gastou tudo em cassinos e voltou para os EUA com uma dívida de US$ 8.000 em cartões de crédito.
Mas àquela altura já era um homem rico. Durante sua ausência, o romance tinha se tornado um best seller. De lá para cá, o livro vendeu mais de 20 milhões de exemplares em todo o mundo.
Em 1996, Puzo voltou a publicar um romance sobre a Máfia, "O Último Chefão". Novo sucesso, transformado em série de TV.
Em entrevista à Folha por telefone, de Nova York, Puzo disse ter achado "muito bom" o "Godfather Book", de Peter Cowie.
(JGC)
*
Folha - O sr. escreveu, em parceria com Francis Coppola, os roteiros dos três "Chefões". Vocês tinham grandes divergências?
Mario Puzo - Nunca tivemos divergências profundas. Sempre nos demos muito, muito bem. No primeiro filme, tivemos uma concordância perfeita. No segundo, discordamos num par de coisas, e também no terceiro. Mas soubemos superar as divergências, cada um cedendo quando percebia que a idéia do outro era melhor.
Folha - Dos três "Chefões", qual o seu favorito?
Puzo - Acho que todo mundo reconhece que "Chefão 1" era o melhor, "Chefão 2" era o segundo melhor e "Chefão 3" não era tão bom quanto os dois primeiros.
Folha - O que torna o primeiro filme melhor que os outros?
Puzo - É difícil explicar. Foi uma daquelas coisas em que tudo se encaixa. Para fazer um bom filme, não basta trabalhar o mais duro que puder, ser o mais esperto que puder. Você tem que ter sorte. Tem que ter os atores certos, os colaboradores certos, o clima. Coppola era um jovem no auge de sua força, talento e imaginação.
Folha - Segundo Cowie, o sr. teve acesso aos "Valachi Papers" (o depoimento escrito na prisão pelo mafioso Joseph Valachi). Usou isso no romance e nos roteiros?
Puzo - Eu já tinha acabado de escrever o romance quando foram publicados os "Valachi Papers". Vi os videoteipes dos interrogatórios no Senado.
Folha - O sr. se lembra de alguma informação específica dos interrogatórios de Valachi que tenha sido aproveitada no filme?
Puzo - A única coisa de que me lembro bem é que os senadores não entendiam os gângsteres, e vice-versa. Falavam línguas diferentes. Achei engraçado, e usamos isso nos interrogatórios do Senado no "Chefão 2".
Folha - É verdade que o sr. introduziu o uso da palavra "godfather" (padrinho) para designar os chefes de famílias mafiosas?
Puzo - Sim. Inventei esse termo porque, quando eu era criança, as famílias italianas o usavam para se referir a um velho amigo da família, assim como os americanos usam "tio" ou "tia".
Torci o sentido do termo e dei-lhe um novo uso no mundo dos gângsteres. Ninguém usou a palavra com esse significado antes.
Depois, até os mafiosos começaram a usá-la. Não é engraçado? Hoje, todo mundo usa a expressão com esse sentido, e até nos dicionários ele aparece. Contribuí para enriquecer a língua. Antes disso, as palavras usadas eram "boss", "capo", "chief".
Folha - Cowie diz que Frank Sinatra ameaçou quebrar suas pernas por causa do personagem Johnny Fontane, que teria sido inspirado nele. Isso aconteceu?
Puzo - Não, não é verdade. Sinatra gritou comigo uma vez num restaurante, mas a culpa foi minha. Alguém insistiu comigo que eu devia abordá-lo, e ele não queria ser perturbado. Foi um mal-entendido. Admiro Sinatra.
Folha - E o personagem foi mesmo inspirado nele?
Puzo - Fontane era uma mistura. Tinha um pouco dele, mas misturado com outras pessoas.
Folha - O sr. foi procurado pela Paramount para escrever o roteiro de um quarto "Chefão"?
Puzo - Falaram alguma coisa sobre fazer o filme, mas não há nada de concreto. Acho que seria muito bom que houvesse uma continuação. Mas ela só terá sentido se for dirigida por Francis Coppola. Senão, não deve ser feita.

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