São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Mar del Plata aplaude 'Policarpo Quaresma'

MARIANE MORISAWA
ENVIADA ESPECIAL A MAR DEL PLATA

O único representante brasileiro na competição oficial do 13º Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, "Policarpo Quaresma - Herói do Brasil", de Paulo Thiago, fez sua estréia mundial anteontem, no Auditorium.
A recepção do público nas duas sessões foi calorosa. Na primeira, às 13h30, no Auditorium, mais da metade dos lugares estava ocupada. Às 19h30, com a sala praticamente lotada, o público voltou a rir com o humor tipicamente brasileiro, e o filme foi novamente bastante aplaudido no final.
A apresentação da noite contou com a presença do diretor, da produtora Gláucia Camargos e dos atores Luciana Braga, Othon Bastos e Ylia São Paulo.
"Policarpo Quaresma - Herói do Brasil" é uma adaptação do livro "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto. O protagonista é um funcionário público radicalmente patriota. Devido à sua extrema honestidade e ao desejo de mudança, ele passa a incomodar militares e fazendeiros.
Paulo José interpreta o papel principal, com a naturalidade habitual. Giulia Gam faz Olga, sua afilhada, que compartilha de suas idéias, mas é mais realista. Othon Bastos vive o marechal Floriano Peixoto, presidente da República.
"A história se repete como farsa", frase de Marx, aplica-se perfeitamente à história. Durante todo o filme -que começa como sátira e se transforma em drama político-, o espectador se depara com fatos ainda muito comuns da realidade brasileira.
Mesmo se passando no início da República, em fins do século passado, há personagens como os militares conservadores, os fazendeiros que sempre estão do lado do governo e os políticos corruptos. Há tentativas de golpe e até um massacre de camponeses.
Com exceção de Giulia Gam, todos os atores procuram o tom satírico. "Quis fazer um militar humano, com todos os seus problemas", disse Othon Bastos em entrevista coletiva, anteontem à tarde. Isso significa um marechal que palita os dentes e boceja. "Dessa forma", afirmou o diretor, "acho que nos aproximamos mais da realidade do que se tivéssemos uma abordagem realista."
Já Luciana Braga, que interpreta a infeliz Ismênia, acredita que sua personagem "sintetiza o desejo pela liberdade". "Ela é fascinada pela capacidade de Policarpo exercer sua liberdade, o que não era permitido às mulheres."
A música tem papel importante na trama. A introdução de cada bloco é feita por meio de modinhas encomendadas a Carlos Lyra e Paulo Cesar Pinheiro. Muitas são cantadas por Ylia São Paulo, que faz o modinheiro Ricardo Coração dos Outros. O grupo Boca Livre interpreta algumas das músicas.
O público brasileiro poderá assistir ao filme em março de 1998. Está previsto um lançamento nacional, com campanha junto às escolas e professores para que incentivem seus alunos a vê-lo. "Esse é um nicho de público interessante. O livro é bastante adotado no segundo grau. Não posso perder a oportunidade de lançar o filme durante o ano letivo", disse o diretor.

A jornalista Mariane Morisawa viaja a convite da organização do festival.

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